Guabiruba e os 150 anos da grande imigração italiana
Guabiruba foi desmembrada de Brusque em 1962. Dentre os seus patrimônios imateriais, destaca-se a cultura dos imigrantes austríaco-tiroleses de língua italiana (trentinos), que fundaram um núcleo de imigração original – ou seja, não transmigrado, mas vindo diretamente de Trento – na época pertencente ao Império Austro-Húngaro, em 1875-1876 – em Lageado Alto. Anos depois pequenos grupos de famílias italianas vieram a compor o quadro ítalo de Guabiruba.
Segundo o historiador padre Eder Claudio Celva, a maioria dos colonizadores considerados italianos que chegaram a Guabiruba eram imigrantes austríaco-tiroleses de língua italiana, e receberam os seus lotes na região do Lageado Alto, considerado até hoje “o bairro dos italianos”. É neste mesmo bairro que, em 2009, foi fundado o Memorial Ítalo-Guabirubense Sacristão Francesco Celva. No mesmo ano foi constituído o grupo de dança Folkloristico Tutti Buona Gente, que se apresenta com danças típicas trentinas.
Também contribui para a preservação da identidade italiana a “Sfilata del Vino”, desfile que antecipa o clima festivo da Festa Italiana que todos os anos acontece no Mirante, Salão e Oratório de Santo Antônio e promove atividades que objetivam manter vivas as tradições dos antepassados italianos, tais como a “pisa da uva” – um resgate de como o vinho era feito antigamente, e o “jogo da mora”. Em 2022, foi fundado o Circolo Trentino di Guabiruba, constituindo-se no 29º Circolo Trentino em Santa Catarina.
Passados 150 anos, como parte das comemorações do sesquicentenário da imigração italiana, a cidade foi presenteada com um marco especial: a Praça do Imigrante Italiano, localizada na rua Lageado Alto. Por ocasião da inauguração, em maio deste ano, Guabiruba recebeu uma comitiva representativa da comunidade trentina internacional, reforçando, com isso, os laços com a Província de Trento, berço da maioria dos imigrantes que chegaram ao município no século XIX.
Idealizada pela Prefeitura – atendendo uma demanda dos descendentes de italianos levada à municipalidade pela Associação Cultural Italiana de Guabiruba -, a praça foi projetada para unir lazer, convivência e valorização histórica. O projeto arquitetônico celebra a memória e a contribuição dos imigrantes italianos para a formação cultural e social do município. Na praça destacam-se o pergolado com parreira de uvas, bandeiras, árvores típicas da Itália como a oliveira e o limoeiro siciliano, fonte de água, canteiros de flores, uma construção que traz traços arquitetônicos da cultura italiana, e um monumento aos imigrantes.
O Monumento, que reproduz a chegada de uma família de imigrantes originários da Província de Trento, foi produzido pelo artista Karl Theichmann a partir do desenho da acadêmica da 5ª fase do curso de Design Gráfico da Unifebe, Julie Caroline Campos Liarte. Para produzir o desenho, Julie utilizou como referências as pesquisas do grupo de pesquisa institucional História, Memória e Patrimônio Cultural – HiMPaC, e do curso de Design de Moda, da Unifebe.
O Monumento é composto por um homem vestido de colete, terno e chapéu, lenço no pescoço, segurando a mala da viagem numa das mãos e o filho na outra mão. O menino usa roupa semelhante às do pai, e segura uma batata com uma estaca de videira plantada nela. A mulher tem um lenço amarrado na cabeça, vestido e avental, e segura um terço e uma bíblia numa das mãos, e na outra a filha. A menina usa roupas semelhantes à da mãe, sem lenço na cabeça, e traz um lenço amarrado em um ombro dos ombros, para acondicionar e aquecer os ovinhos do bicho da seda. A videira, para a produção da uva e do vinho, e o bicho da seda, para a produção do mais fino tecido de seda, foram os elementos econômicos que os imigrantes de língua italiana trouxeram consigo quando chegaram na região de Brusque.