Retomamos nossa série sobre os pecados capitais abordando dois vícios ligados aos prazeres sensoriais mais intensos. Os prazeres ligados ao paladar, quando não controlados pela razão, levam ao vício (ou pecado) da gula. Os prazeres ligados sexo, quando se desvirtuam, geram o vício (ou pecado) da luxúria.
Estamos tão saturados dos excessos dessas sensações que até parece estranho fazer um esforço para reconhecê-los. Tudo parece normal e justificável, uma vez que nos habituamos à ilusão de que entregar-se a esses prazeres torna o indivíduo mais feliz. Assim, fica difícil perceber os terríveis malefícios que esses dois vícios causam aos indivíduos e à sociedade.
Os animais não precisam se preocupar com essas coisas. A natureza já lhes proveu do freio necessário aos seus excessos. Nós, humanos, ao contrário, não temos nenhum freio natural, mas temos que desenvolvê-lo através da educação, do exercício constante na busca da “justa medida”. Quando essa educação moral não acontece, entregamo-nos às sensações, iludidos pelo prazer imediato e cegos aos estragos que provocam na nossa saúde física, psíquica e espiritual. O desequilíbrio nessas áreas da vida tem sido a causa de doenças de todos os tipos, desordem social, desajustes familiares, desleixo e indisciplina nos estudos e na vida profissional. Vivemos uma cultura do excesso, consumista, sexista, imediatista.
Preocupa-me muito ver as crianças se acostumando desde cedo aos excessos e pouco afeitas ao autocontrole. É muito brinquedo, muita variedade de comida e bebida, muita roupa, muita frescura na escolha de marcas e mais um sem fim de excentricidades, que deseducam e abrem caminho para o vício da gula, que é porta de entrada para muitos outros.
O sexo, por sua vez, tornou-se praticamente onipresente. A busca do prazer se tornou a finalidade da vida nos nossos dias, enquanto a responsabilidade, o zelo pelo próprio corpo, pela saúde e pela dignidade se tornaram coisas de carolas.
Pior que o pecado (ou o vício, para quem não quiser usar uma linguagem religiosa) é a nossa acomodação diante dele. A acomodação é tanta que sequer somos capazes de percebê-lo ou nos indignarmos com ele.
É preciso coragem para refazer o percurso, dar nome aos bois e encarar nossas deficiências, antes que elas destruam nossa vida pessoal, familiar e social. As regras, princípios ou “mandamentos” que nos ensinam a reconhecer o mal e nos afastarmos dele existem para o nosso benefício, e não para nos privar do que é “bom”.
Essa é uma lição difícil, especialmente para o nosso tempo, mas precisa ser repetida inúmeras vezes, até que aprendamos a “apreciar retamente todas as coisas”.

Artigo anterior
Próximo artigo
José Francisco dos Santos
Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.