A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), popular “pressão alta”, é uma doença que atinge ao redor de 30% da população brasileira. Em geral, considera-se hipertenso toda pessoa que tenha pressão sustentada igual ou superior a 140/90 mmHg (milímetros de mercúrio).

O primeiro número representa a pressão máxima, ou sistólica, que corresponde à contratura do coração, e o segundo se refere à pressão mínima ou diastólica quando o coração relaxa.

A grande maioria de casos de HAS são do tipo primário, quando não há uma causa específica. O restante são de tipo secundário, quando há outras alterações ou doenças provocando a pressão alta, daí a importância de avaliar todos os pacientes com hipertensão.

Um amplo estudo epidemiológico conduzido pelo cardiologista Dr. Bruno Nascimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revela que tanto a prevalência (número de casos por número de habitantes) quanto o número absoluto de mortes por HAS continua aumentando no Brasil nos últimos anos.

A hipertensão arterial dobra o risco de sofrer doenças cardiovasculares como insuficiência cardíaca, doença coronariana, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência renal e doença arterial periférica.

Ainda, ela não provoca nenhum sintoma clínico na sua fase inicial, porém já inicia o comprometimento dos chamados órgãos alvos, como o coração, cérebro, olhos, rins, etc. Por causa disso, muitos pacientes ao serem diagnosticados com hipertensão arterial já estão com lesões nesses órgãos, lesões de natureza irreversível.

Cerca de um terço dos hipertensos desconhecem que tem a doença. Recomenda-se que toda pessoa verifique sua pressão arterial ao menos uma vez por ano. Ela tem a vantagem de ser uma doença fácil de diagnosticar e de tratar.

Muitas vezes, as mudanças dos hábitos de vida auxiliam no controle total da doença. Porém, na maioria dos casos é necessário o uso de medicamentos associado às mudanças no estilo de vida.

A nível populacional, a política pública de melhor custo-benefício para diminuir a incidência da hipertensão é a diminuição da ingesta de sal pela população. Especialistas em saúde pública observam com muita preocupação o excesso dele nos salgadinhos industrializados, muito consumidos pelas crianças e também por adultos.

O sal tem propriedades de preservação dos alimentos e nos tempos atuais virou um condimento relativamente barato. Essas razões facilitam o uso em excesso, principalmente em alimentos industrializados.

Portanto, é necessária uma fiscalização mais rigorosa a este respeito. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma ingestão diária de sódio de no máximo 2 gramas, isso equivale a 5 gramas de sal comum (cloreto de sódio). Estima-se que os brasileiros consomem diariamente mais do que o dobro disso.

De forma simplificada, podemos dizer que nosso corpo precisa aumentar a pressão para poder eliminar o excesso de sal que ingerimos ao longo da vida.

Lembremos que o ser humano surgiu do deserto subsaariano, lugar com escassez de sal. Os que sobreviveram foram os mais adaptados para reter sal. Talvez, atualmente, os mais adaptados para ter uma maior expectativa de vida sejam os humanos com mais facilidade para excretar sal do seu organismo.

Na época do império romano, o sal era artigo de muito valor. Muitos recebiam pagamento em sal e é daí que deriva a palavra salário, do latim “salarium”, que significa pagamento de sal.

Provavelmente, naquela época, a hipertensão arterial não era uma doença muito comum, não somente pelo fato do sal ser artigo escasso, mas também porque poucos superavam a quinta década de vida. Sabemos que a HAS aumenta em frequência a cada década de vida.

Hoje em dia, pelo preço dos anti-hipertensivos modernos, acredito que muitos aceitariam receber o salário em medicamentos, será que mudamos para melhor? Ironias de lado e falando do tratamento medicamentoso, há mais de uma dúzia de medicamentos muito eficazes para o controle da hipertensão arterial.

A grande maioria destes medicamentos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Há raros casos de hipertensão de difícil controle, que exigem o uso de múltiplos medicamentos em doses altas. Estima-se que perto de 40% dos hipertensos conseguem o controle com o uso de apenas um medicamento.

O grande paradoxo é que muitos hipertensos abandonam seu tratamento e se colocam em risco de sofrer sérias complicações como derrames (AVC) e infartos de miocárdio. Complicações que, além do risco de morte, deixam severas sequelas para o resto da vida.

Assim, a hipertensão arterial é o principal fator de risco para morte no mundo, produz mais mortes que o tabagismo, alcoolismo, câncer e acidentes, ao mesmo tempo é um fator totalmente previsível e controlável. Campanhas de conscientização e adoção de políticas públicas abrangentes podem diminuir a incidência e aumentar o controle desta doença, que provavelmente é a doença crônica mais importante que acomete a população adulta.