Quando você vai para um hotel fazenda pensando em descansar no final de semana, das duas uma: ou você é um super-atleta ou nunca frequentou um hotel fazenda. Nesses hotéis a única coisa que não se faz é descansar.

Ainda mais se você for pobre. Porque pobre geralmente vai com uma turma inteira, uma excursão e tem aqueles cronogramas de atividades e tal! O que é o meu caso…

E mulher de pobre é aquela coisa: “Ai bem, já que a gente “pagamos” vamos aproveitar tudo, né!”. Então o cidadão levanta às sete e meia da madrugada para tomar aquele café da manhã revoltante de hotel fazenda.

Quando ele senta à mesa parece que o mundo vai acabar. De cara já pede um prato fundo ao garçom para botar aquela omelete que já mistura com geleia, pão de fubá, nata, pão de queijo, mais um pouco de omelete, pão de batata, manteiga, queijo, linguiça, enfim, aquela “misturéba” toda.

Após o café da manhã, a sugestão dos recreadores é uma caminhada leve. “Ô mulher vamos, que eu quero gastar o café da manhã!”. Cinco minutos após o início da caminhada a barriga já começa a roncar, os músculos começam a doer e a mulher já começa a reclamar.

Duas horas depois, na chegada da caminhada “leve”, o casal chega ao hotel e a mulher já está com um bico gigante, esculhambando o cara: “Eu falei que a gente devia ter ido pra praia, ao invés de vir aqui nesse hotel-academia!”

Quando o sujeito pensa que vai poder tomar a sua cerveja geladinha, na beira da piscina, ouvindo aquele CD do Amado Batista (“no hospital, na sala de cirurgia, …”), vem a mulher de novo para encher o saco: “Vamos almoçar que todo o pessoal da excursão já está na mesa, só falta tu pra variar, seu cachaceiro!”

Novamente sentado à mesa, o sujeito faz aquele prato de pedreiro, com aquele macarrão escorrendo pela beirada do prato e com o tradicional molho de língua por cima de tudo.

Após o almoço, aquela desmaiada até umas duas horas da tarde pro estômago entender o que entrou! De repente bate na porta do quarto o “líder” da excursão, que por tradição é o cara mais chato do Brasil e que também por tradição é abstêmio (não bebe nada!). “Vamos levantar que está na hora de andar a cavalo!”

A mulher já pula da cama, coloca aquela bota, aquela jaqueta de couro com franjinhas, um chapéu e fica igualzinha as irmãs Galvão. Passada a vergonha e a cavalgada, tem o café da tarde, mas o nosso herói pede ajuda para os universitários e pula essa parte.

Depois de um dia inteiro de atividades intensas como caminhada, tênis, vôlei, cavalgada, escalada e futebol, chega a noite, e com ela a esperança de poder estacionar num bom balcão para saborear a famosa cerveja gelada do hotel fazenda. Nada disso, o líder da excursão programou um torneio de “dança da cadeira” entre casais, imperdível! Depois do vice-campeonato no torneio, chega a hora do jantar.

Com o intuito de relaxar um pouco, nosso herói vai dar uma caminhada pelas cercanias do hotel, mas como o dia foi muito agitado e o jantar foi um pouco pesado, nosso amigo começa a ter alucinações. Primeiro ele vê uma Ararinha Azul, depois vê o Mico-Leão Dourado, o Boitatá, o Saci Pererê, o Curupira, e quando ele está quase vendo o gaúcho macho, sua mulher chega e bate nas suas costas. “Hora de ir para a cama!”

Antes de deitar, ele pega aquela latinha de cerveja no frigobar, nem dá tempo de abrir e a patroa já detona: “Chega de beber seu cachaceiro! já não bebesse o dia todo?” Hotel fazenda nunca mais!

 

Fernando Lauritzen

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