Imigração Italiana e os impactos do contrato Caetano Pinto em Brusque – Final
Nas duas colunas anteriores, vimos que os imigrantes austríaco-tiroleses de língua italiana (trentinos) e italianos começaram a chegar a Brusque no dia 4/06/1875. A partir de então, até 1877, chegaram aos milhares. Vimos, também, que a chegada desses imigrantes tem relação direta com o Contrato Caetano Pinto. Brusque foi uma das colônias do Brasil que, proporcionalmente, mais recebeu gente etnicamente italiana num curto período de tempo.
Dentre outros fatores, a preferência dada a Brusque dava-se pela forma como eram feitas as distribuições das ajudas de custo (dinheiro) ao imigrante. As razões para o poder de atração de Brusque são analisadas pelo Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alfredo D’Escragnolle Taunay, em relatório encaminhado ao Ministro da Agricultura em outubro de 1876.Segundo Taunay, citado por Roselys Izabel Correa dos Santos (1981), as razões de maior importância eram o fato de o elemento germânico, em geral exclusivista, repelir a fusão com outras raças, e em Blumenau ele existir vivo com todos os seus defeitos e virtudes; e também pelas cartas que eram encaminhadas pelos imigrantes que já estavam instalados em Brusque, dirigidas aos seus patrícios na Europa, indicando-lhes as regalias especiais de que gozavam os colonos logo à chegada.
Taunay dizia: chega o colono e é levado para o barracão de recepção da Barra do Itajaí-Mirim e do Açu, onde fica dois dias à espera de uma condução, quer para Brusque, quer para Blumenau. Consultados sobre o destino que desejam, gritam todos, em uma só voz: Itajaí (Brusque), desconfiados de que possam ser enganados na direção a tomar e levados para Blumenau. Aí aparecem agentes de negociantes estabelecidos em Itajaí que aconselham resistência até que todos sigam para o centro onde eles têm suas casas de negócios.
Uma vez em Brusque, o colono recebe de uma só vez todo o dinheiro para o seu estabelecimento, fartura de casa (alimentação), derrubadas (das matas), sementes e transporte, de modo que, se tiver três pessoas da família, recebe de pronto e de uma só vez 148$000, ainda que vá ficar oito ou mais meses dentro de um barracão de recepção à espera para que se localize num lote que ele, pelo seu contrato, ainda pode ou não aceitar, conforme for do seu agrado. E enquanto está no barracão, o Estado lhe dá 2$000 (dois mil Réis) diários para que ele vá trabalhar em estradas, ficando a família a “abanar os braços”. Para Taunay, este modelo representava o sistema mais irregular e antieconômico que se podia imaginar. E dizia ainda: esse sistema era filho das péssimas tradições existentes na administração da Colônia Itajahy e Príncipe Dom Pedro (leia-se Brusque).
Ainda conforme Santos (1981), Taunay emitiu sua opinião quanto à razão da preferência dos imigrantes italianos por Brusque: “O que se faz de afogadilho em Itajaí (Brusque), faz-se sucessivamente (aos poucos) em Blumenau. Assim, em Blumenau o colono só obtém o dinheiro para fazer a casa quando entra na posse do seu lote, para derrubar (a mata) quando já tem casa, e (o dinheiro) para sementes quando já tem área para plantar”. E termina a sua análise: “Uma vez de posse da soma que naturalmente lhes é fabulosa, aqueles proletários da Europa começam os gastos em botequins e casas de cerveja, de modo que uma dessas, do cidadão Thies, vendeu em cinco dias 16.000 garrafas de cerveja. Some-se a esta porção o que foi consumido em outros negócios e terá V. Ex.ª. uma quantidade enorme de litros de cerveja pagos pelo Governo do Brasil aos seus imigrantes como saudação de feliz chegada”.