Imigração Italiana e os impactos do contrato Caetano Pinto em Brusque – Parte II
Por não ser possível fixar os imigrantes nos seus respectivos lotes logo que chegavam em Brusque, eles foram sendo acomodados nos barracões de recepção, construções precárias, sem o mínimo de conforto, como a maioria das habitações da época: de pau-a-pique, barreada, coberta de folhas de palmito trançadas. Eram acomodações destinadas a abrigar os colonos pelo prazo máximo de oito dias, período pelo qual o Governo deveria conceder hospedagem e alimentação aos imigrantes. A partir de 1876, os barracões de recepção estavam apinhados.
De acordo com Renzo Maria Grosselli (Vencer ou Morrer: Camponeses Trentinos (Vênetos e Lombardos) nas Florestas Brasileiras: Santa Catarina 1875-1900. Florianópolis: 1987, p. 288), Brusque foi uma das colônias do Brasil que mais recebeu gente etnicamente italiana em sua transtornada existência, e uma daquelas em que mais tiveram de sofrer esses colonos. A chegada de milhares de imigrantes de etnia italiana em tão pouco tempo sinaliza que Brusque talvez tenha sido a colônia que, num curto espaço de tempo, mais tenha recebido imigrantes em função do Contrato Caetano Pinto.
Brusque não tinha mais condições para receber novas levas, mas os imigrantes austríaco-tiroleses de língua italiana (trentinos) e italianos continuavam a chegar. Com relação ao assunto, o Dr. Alfredo D’Escragnolle Taunay, Presidente da Província de Santa Catarina entre 7/06/1876 e 2/01/1877, em ofício dirigido ao Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, datado de 1876, assim se manifestou: “Esta situação (…) é agravada de modo evidente pela chegada contínua de novos imigrantes. Acumula-se gente nos barracões de recepção, lá ficam seis ou mais meses a receber subsídios do cofre público e à espera de lotes medidos, onde serão localizados”.
A situação não era a mesma em todas as Colônias da Província de Santa Catarina. Roselys Izabel Corrêa dos Santos (A colonização italiana no vale do Itajaí-Mirim. Florianópolis: 1981) conta que em Blumenau, em meados de 1875, antes da chegada dos imigrantes austríaco-tiroleses de língua italiana (trentinos) e italianos, já existiam lotes medidos e prontos para serem ocupados, mas a grande maioria dos imigrantes preferia Brusque. A causa novamente estava nas cláusulas do Contrato Caetano Pinto, pois já na Europa o imigrante podia escolher o lugar onde queria se fixar no Brasil e nada havia a se fazer, a não ser atender às prerrogativas dos imigrantes.
Dentre outros fatores, a preferência dada a Brusque dava-se pela forma como eram feitas as distribuições das ajudas de custo (dinheiro) para a compra de sementes e ferramentas. Não havia uma norma comum para todas as colônias. Em Blumenau, constituída originalmente como uma colônia privada, o colono só recebia o dinheiro que lhe era devido quando ele já estava na propriedade do lote no qual deveria se fixar. Mas em Brusque o dinheiro já era entregue quando o imigrante ainda esperava nos barracões pela demarcação dos seus lotes.
As razões para o poder de atração de Brusque são analisadas pelo Presidente da Província de Santa Catarina, Dr. Alfredo D’Escragnolle Taunay, em relatório encaminhado ao Ministro da Agricultura em outubro de 1876, assunto que abordaremos na próxima coluna.