Imitar ou seguir o Cristo?
São dois verbos muito usados, em nossas conversações quotidianas. Também, são bastante utilizados, em catequese, pregações, homilias, palestras. Será indiferente falar imitação de Cristo ou seguimento de Cristo. Alguém pode dizer: bem, o mais importante é viver a proposta que Jesus trouxe da Parte do Pai. Não importa a linguagem usada. Será? Mas, a linguagem nos trai muitas vezes! E, até, por vezes, confunde-nos. Por isso, é bom buscar sempre a melhor precisão possível. Sem que seja, evidente, uma obsessão. Tentarei aclarar um pouco. Sem ser dogmático. É sugestão, tá?
Vejamos, a título de início de conversa, o que diz o dicionário Aurélio, a respeito. Imitar: fazer exatamente (o que faz uma pessoa ou animal); reproduzir à semelhança de; repetir, reproduzir; copiar. Tendo presente estes sentidos, em nossa língua, será possível, de fato, a um simples ser humano imitar o Cristo? “Fazer, portanto, exatamente o que Cristo fez e faz?”. “Repetir, copiar, reproduzir o que Jesus fez e faz”? Pessoalmente, penso que não.
Embora exista, na história da espiritualidade cristã, uma obra muito estimada, intitulada “Imitação de Cristo”. A meu ver, porém, expressa uma espiritualidade de outros tempos que deu seus frutos. Hoje, porém, os modos de expressar e viver a fé são outros. Por isso exigem outra linguagem e, sobretudo, maior rigor em seu próprio uso.
Muitas pessoas, acredito, deixam de viver a proposta de vida de Cristo porque se sentem tão incapacitados de vivê-la. Com efeito, querem “imitar” o Mestre Jesus e logo percebem que não dão conta. Desanimam. Não conseguem imitá-lo com exatidão. Sentem-se frustrados. Não é para menos! Quem pode, de fato, como simples ser humano limitado, imperfeito, finito fazer as mesmas obras de um Filho de Deus? De fato, é impossível “imitar” o Mestre.
O que diz o Aurélio, para “seguir”: “Ir atrás de; acompanhar; andar em, percorrer; abandonar-se, entregar-se, submeter-se; tomar o partido de, aderir a; ser dirigido por; proceder, viver em harmonia com; tomar certa direção…” De fato, foi o próprio Mestre Jesus que disse e continua a dizer: “Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mc 8,34) (Cfr. Mt 8,19; 8,22; 9,9; 16,24; 19,21; 19,27; Lc 5,11;5,27; 9,57; e muitas outras passagens bíblicas). Como se nota, Jesus não pede para copiá-lo, reproduzir exatamente o que faz, imitá-lo com exatidão. Propõe segui-lo. Seguir, portanto, andar na mesma direção, com a mesma disposição interior e exterior. É aderir; ir atrás de Jesus; é harmonizar a sua vida com a proposta do Mestre; é deixar-se dirigir pelo Evangelho; é abandonar-se, entregar-se inteiramente ao apelo de Jesus.
Portanto, fé é comprometer-se com o projeto de vida proposto por Jesus a nosso respeito e a respeito da humanidade. A fé, na prática, é mais caminho do que conquistas; é mais um andar com Jesus e com os que já estão a caminho com ele. É esse seguimento de Jesus, partilhando a vida com tudo o que ela proporciona com o Mestre. Seguir Jesus, portanto, é ser um discípulo missionário convicto que está bem orientado, no rumo certo, no caminho das bem-aventuranças, na estrada que leva felicidade.
Por isso, viver a fé é, antes de tudo, conhecer e aderir ao um projeto de vida proposto por Jesus. O seguimento de Jesus é mais um itinerário de fé, um caminho da fé, do que uma “imitação dos gestos e obras de Jesus”.