Campanha da Fraternidade 2024: Todos Irmãos
É uma longa e considerável história. Há sessenta anos e a cada Quarta-feira de Cinzas, a Igreja Católica divulga uma carta pastoral sobre tema de interesse não só religioso, mas também político, econômico e social. Assim, hoje começa mais uma Campanha da Fraternidade, movimento ecumênico que transcende os limites dos seus templos, das suas paróquias e do seu próprio catecismo confessional.
E todos são convocados, católicos e homens de boa vontade, a se engajarem numa campanha em prol da solidariedade, da fraternidade e das boas políticas públicas como a educação, o ambiente e a igualdade entre as pessoas. A CF é uma ação marcada pela fé religiosa, sim. Mas, não deixa de ser um movimento político. Aristóteles já disse que o homem é um animal político, sendo da sua natureza viver em comunidade, numa aldeia de relacionamentos interpessoais. Somos, portanto, um ser comunitário destinado a viver entre os nossos semelhantes.
Para este ano, os bispos brasileiros escolheram “Fraternidade e Amizade Social”, como tema da CF-2024. E, repetindo uma frase do evangelista Mateus, acrescentaram-lhe o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”. Sabemos da importância de termos amigos, aqueles que estão sempre ao nosso lado, com os quais dialogamos, concordamos ou discordamos das suas ideias e com os quais mantemos uma recíproca relação de afetividade que nos anima, nos conforta e nos faz bem. Sem dúvida, a amizade é importante para a vida de todo o ser humano.
No entanto, a CF-2024 pretende destacar a grande importância da “Amizade Social”, expressão utilizada pelo Papa Francisco numa de suas encíclicas. Trata-se de uma relação de amizade que se passa numa dimensão mais elevada e que exige maior comprometimento com a fraternidade e a solidariedade para com nossos semelhantes, sem distinção de raça, credo religioso ou político nem de classe social.
Nesse ponto, a amizade pregada pela CF-2024 é aquela que transcende os limites dos relacionamentos interpessoais fechados, elitistas, excludentes e seletivos. Para a igreja, a amizade autêntica não é um bem privado nem fechado entre duas ou mais pessoas. Ao contrário, tem ela uma dimensão social, na medida em que se transforma numa importante ponte entre as pessoas, além de um ser um fator importante de promoção do bem-estar humano.
Como disse o filósofo grego acima citado, mesmo que pudesse ser o dono do mundo, nenhum ser humano escolheria viver sozinho, sem a companhia de outras pessoas. Para ele, “o homem bom viverá em companhia dos seus semelhantes”, pois só assim poderá ele realizar a sua missão humana fundamental, que é a de realizar o bem comum.