João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: cachorros e sandálias

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: cachorros e sandálias

João José Leal

Neste verão, a tribo de sexagenárias do Alvorada do Atlântico contou com mais duas condôminas vindas de Mato Grosso, uma de Cuiabá e a outra de Sorriso, maior produtora de soja do país. Como sempre, as reuniões vespertinas para colocar as fofocas em dia aconteceram quase todas as tardes. E o assunto de uma das conversas foi a paixão, cada vez maior, pelo cão de estimação. Afinal, quase todas têm o seu “menino” ou “menina”, como dizem elas, um poodle, um buldogue, um labrador ou um outro de uma das muitas raças.

Embora novata no grupo, Maria Fernanda, da capital mato-grossense, tomou conta do bate-papo para contar o que lhe acontecera antes do Natal.

— Amigas, vocês não vão acreditar o que me aconteceu no começo de dezembro. Um casal, que havíamos conhecido numa festa de casamento, nos convidou para jantar no apartamento deles. Logo que meu marido tocou a campainha, escutei o latido de dois cães atrás da porta. Já na entrada, dois poodles avançaram em nós e não paravam de latir, aquele ganido estridente que zunia nos meus ouvidos.

— Um deles quase me mordeu. Imaginem, em vez de afastar os dois diabinhos e levá-los para um outro local, a dona, que agora virou tutora, apenas disse que os “meninos” eram assim mesmo e só queriam brincar. E não parou de falar dos seus dois queridinhos. Não teve jeito, a conversa rolou em meio àqueles latidos esganiçados, que tornavam quase impossível entender o que ela me dizia. Fomos para o jantar e, felizmente, os dois peludos se calaram e desapareceram para que pudéssemos comer em paz e conversar, sem gritos.

— Como vocês sabem, Cuiabá é uma das cidades mais quentes do Brasil e, pra piorar, não tinha ar-condicionado na sala de jantar. Estava um calor danado, de suar em bicas. Então, pra aliviar os pés, tirei as sandálias embaixo da mesa.

— Já passava das onze horas, quando meu marido e eu resolvemos nos despedir. Procurei calçar as minhas sandálias, vasculhei com os pés por baixo da mesa e não consegui encontrá-las. Abaixei-me para procurar e nada das sandálias. Então, expliquei para os anfitriões e, para encurtar a conversa, as sandálias tinham sido levadas para um quarto do apartamento. Veio a dona com a minhas sandálias, que me custaram 1.400 reais, com as tiras completamente roídas pelos dois cachorros. Em vez de pedir desculpas, a dona ria às gargalhadas do ocorrido, dizendo que não era a primeira vez que os “meninos” comiam o calçado das visitas. Botei as sandálias no lixo e saí dali furiosa e descalça.

— Na semana seguinte, meu marido disse-me que queria retribuir a gentileza do convite. Armei um barraco daqueles. Falei pra ele que os dois estavam proibidos de entrar em minha casa. Imaginem vocês, se eles levassem os dois “queridinhos” pra minha casa.

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