João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: Oniomania

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Conversas Praianas: Oniomania

João José Leal

A condômina Maria Teresa estava furiosa. No dia anterior, tinha ido a uma loja de bijuterias, na avenida Brasil e, na hora de pagar, não aceitaram cartão de crédito. Só Pix e dinheiro vivo. Para ela, a recusa era um absurdo.

— Imaginem vocês, senti-me humilhada. Sempre pago com cartão porque só me cobram no vencimento da fatura, às vezes, mais de um mês depois. Se não tenho para pagar tudo, entro no vermelho e peço para o meu marido, coitado, dar um jeito de acertar a conta. Ele se recusa a pagar os juros extorsivos cobrados pelas operadoras de cartão e acaba pagando a conta. Então, é uma briga lá em casa. Prometo me controlar. Mas, não tem jeito. Gosto de entrar nas lojas e compro o que vejo pela frente.

— Meus filhos já me disseram que sofro de uma tal de oniomania. Nunca tinha escutado essa palavra, muito menos o que significava. Andei pesquisando na Internet, que tudo vê e tudo sabe. Pelo que entendi, é um tipo de transtorno compulsivo, um distúrbio de comportamento que leva a gente a comprar sem controle, para satisfazer em estado de carência e de angústia.

— Não me considero uma pessoa carente nem angustiada. Penso que isso é coisa da moderna Psiquiatria. Se a gente consultar um psiquiatra não sai do consultório sem um tipo de Transtorno Obsessivo Compulsivo, sem um TOC, como dizem eles. Basta falar um pouco demais, ter apetite e comer bem, dizer que tem medo de altura e de andar de elevador ou gostar de fazer compras e o psiquiatra vai dizer que a gente tem alguma espécie de síndrome ou algum tipo de distúrbio.

— Também se a gente vive calada, não fala, não come ou não compra nada, não vai escapar de um TOC qualquer. São tantos os tipos de transtorno que ninguém mais parece ser normal.

— Para mim, comprar não tem nada de angustiante. Ao contrário, só faz bem e me dá prazer. Sinto-me aliviada quando levo para casa mais um relógio, uma joia diferente, um novo par de sapatos ou um vestido de grife comprado numa butique. Tenho os guarda-roupas abarrotados de vestidos e sapatos, as gavetas cheias de joias, na verdade, de bijuterias que parecem de ouro e de pedras preciosas. Ninguém diz que não são joias. Hoje, tudo é artificial, inclusive a beleza feminina feita à base de bisturi, silicone e botox.

— Tem gente que me diz que comprar faz mal para o bolso. Eu já penso que dinheiro foi feito para gastar. E isso não tem nada de transtorno, de compulsão nem de síndrome. Meu marido e os filhos é que não concordam comigo. Acham que não é certo, que é demais comprar tantos vestidos e sapatos, se alguns deles nunca usei por falta de ocasião.

— Vocês sabem como é, a gente vai envelhecendo e já não tem a mesma disposição dos tempos de juventude para botar o pé na rua ou para ir a festas, que já não são tantas para nós idosas. Só não gosto quando tenho que pagar com Pix porque dinheiro nunca tenho na conta corrente, muito menos, levo na bolsa.

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