Limites que ensinam e libertam
Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, surgiram muitas histórias de pessoas que sobreviveram porque deveriam estar no World Trade Center naquele momento, mas não conseguiram chegar a tempo. Houve quem ficou preso no trânsito, recebeu visita inesperada, teve que resolver alguma outra coisa emergencial. Por algum contratempo, alheio a sua vontade, escaparam dos ataques terroristas. Ao saber da tragédia, certamente perceberam o quanto tal contratempo foi providencial.
Nossa vida é permeada de contratempos. E nós tendemos a apenas lamentar e esbravejar contra eles, sonhando uma existência livre de qualquer obstáculo.
Muitos ganhadores de loteria estão falidos e com a vida virada do avesso. O dinheiro que deveria representar o grito de liberdade acabou significando a escravidão e o fracasso. Quando os limites são tirados de uma hora para outra, como num passe de mágica, a rota se torna um tobogã escorregadio pelo qual se passa sem esforço, mas cujo destino final está totalmente fora de controle.
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É significativo que muitas pessoas que passaram por enormes dificuldades e desafios têm mais calma e controle diante da vida, como se tudo tivesse sempre sido muito fácil para elas. Mas essa segurança e o sucesso que costuma acompanhá-la são forjados, a todo momento, por quem vive no calor da batalha, e por isso já aprendeu a enfrentá-la com serenidade. Do ponto de vista dos medrosos e dos que sempre deixam para depois o esforço que precisam fazer, o sucesso das pessoas guerreiras é fruto da sorte, como se a vida lhes tivesse sido excessivamente gentil. Ao contrário, uma vida cheia de facilidades costuma produzir fracassados, pois as facilidades minam nossa energia, enquanto as dificuldades nos ajudam a produzi-la. No fim, o guerreiro sempre achará fácil o que o preguiçoso considera um obstáculo intransponível. É uma questão de disposição interna, e que só se forja na luta de cada dia. Quando não há inimigos para enfrentar, os soldados enchem a cara de vinho, perdem a força e se tornam inúteis.
A meu ver, Deus está longe de ser um desses pedagogos modernos, que acham que se deve facilitar sempre mais a vida das crianças. Ao contrário, como sabe exatamente o quanto cada um precisa e pode evoluir. Ele recheia os seus caminhos com as pedras adequadas. Os sábios não titubeiam em passar por elas e colhem as lições que cada uma engendra. Quem quiser tomar um atalho qualquer poderá fazê-lo. Vai chegar mais rápido, mas certamente não ao destino que lhe estava preparado.
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Nesse contexto, relembro a Semana da Família, que estamos vivendo agora. A família é o local mais adequado para aprendermos essas lições. A função dos pais não é facilitar a vida dos filhos, mas, em muitos casos, criar algumas dificuldades, sem as quais ninguém é capaz de crescer e desenvolver o que tem de melhor. Todos precisamos aprender que o verdadeiro amor é renúncia de si, e é nesse processo que nos lapidamos. Caros filhos, agradeçam aos pais que lhes dão limites e lhes impõem obstáculos. Eles estão prestando um serviço inestimável, que talvez vocês só reconheçam quando eles não estiverem mais no seu convívio.