Laços e vínculos sociais com o “outro”
Estamos tentando entender o que é necessário para a construção da Cultura do Encontro. Já vimos que para poder pensar em cultura do encontro, necessário se faz a compreensão e a valorização da presença do “outro”, do “tu” na minha vida. Sabemos que é o outro, o tu que me constitui. Sem ele, não seríamos nada. Ninguém é uma ilha. Somos todos dependentes uns dos outros. Uns mais, outros menos. Mas, todos, sem exceção. Ninguém se basta a si mesmo.
Portanto, todos necessitamos de laços sociais e vínculos, em nossa convivência diária. Não é possível uma vida verdadeiramente humana, sadia, realizadora sem a presença e o auxílio do “outro”. Para isso, é preciso superar a lógica da indiferença e nos dispormos a partilhar uma posição permanente de escuta, abertura e diálogo. A partilha destes meios que facilitam a comunicação, nos encaminha para um verdadeiro encontro entre pessoas. É a base, o fundamento da Cultura do Encontro.
Como já vimos, há diferenças muito significativas, num contexto de encontro pessoal e de encontro digital. Quando estamos num ambiente digital os estímulos à disposição são imensos. Sem dúvida, será mais dificultoso permanecer numa atitude de escuta e diálogo com o “outro”. Ainda mais, se cada um está numa “bolha” digital diversa. O que acontece com frequência. Num ambiente contaminado por posturas ideológicas, sobretudo, as que tendem a radicalismos e fanatismos, principalmente, relacionados a âmbitos políticos, religiosos… quase se torna impossível um autêntico encontro de pessoas. É triste, quando tal situação acontece em grupos familiares ou eclesiais.
Como se percebe, a comunicação entre pessoas humanas, só é possível estabelecendo laços e vínculos sociais. Pois, o autêntico encontro de pessoas, não se dá, apenas com a informação, mas, sobretudo, na abertura, no diálogo com o outro. Uma verdadeira troca de experiência de vida, em que esteja presente uma escuta efetiva de uma recepção da mensagem por um emissor (do “eu”) e da acolhida e escuta de um receptor (do “tu”).
Acontece, então, um clima de troca, de aceitação, de recusa, de aceitação, de remodelagem de mensagens e informações. Então, se vai além do uso pura e simples do aparato digital (técnica) e surge um processo social de laços e vínculos que serve como matéria prima para formação de ambiente menos hostil, agressivo nas redes sociais. É evidente que este ambiente mais amistoso e acolhedor, não é tão simples de vivenciar e de cultivar. Exige muita maturidade, autocontrole, domínio de si, responsabilidade.
Este ambiente mais equilibrado, amistoso, sadio, construtivo no âmbito das redes sociais, não acontece automaticamente. Como tudo, no âmbito sociocultural, da nossa convivência sociocultural é fruto dos processos de personalização e de socialização. Portanto, é resultado de uma educação para “ser pessoa humana” e para saber “viver em sociedade”. Essa é a grande e ingente tarefa da família, em primeiro lugar, e depois da escola e as demais instituições socioculturais. Sem essa sólida base de convívio social, é quase impossível a criação de verdadeiros laços e vínculos sociais que servem como fundamentos para uma autêntica e sadia comunicação humana.
A família e a escola, como as demais instituições socioculturais, que formam a estrutura e organização da vida em sociedade tem mais esse empenho a realizar, num ambiente dominado pelo aparato digital que continuamente se torna mais presente, atuante, influentes, em todos os setores de nossa vida, seja pessoal ou sociocultural. Por isso, é urgente uma educação para o respeito, a acolhida, aceitação do “outro”, com suas diferenças. Acolher efetiva e afetivamente o “outro” como “alguém” que me auxilia na construção e realização da minha identidade e personalidade.