Lei ignora São João Batista ao determinar que cidade capixaba é pioneira na imigração italiana
Historiador afirma que Colônia Nova Itália recebeu europeus 37 anos antes que Santa Teresa
Historiador afirma que Colônia Nova Itália recebeu europeus 37 anos antes que Santa Teresa
O presidente Michel Temer sancionou, na semana passada, lei que reconhece Santa Teresa, no Espírito Santo, como cidade pioneira na imigração italiana no Brasil. No entanto, o historiador de Brusque, Paulo Vendelino Kons, afirma que a informação está equivocada e classifica como “erro histórico” dar este título ao município capixaba.
Ele explica que a nomeação pertence a Colônia Nova Itália, de São João Batista. Segundo o historiador, os dados são fidedignos e apresentados por integrantes do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC).
Kons afirma que em 1836 foi fundada, por 132 imigrantes católicos do Reino da Sardenha (precursor do Reino de Itália), a primeira colônia de italianos no Brasil – a Colônia Nova Itália, localizada no vale do Rio Tijucas Grande, hoje São João Batista.
Por sua vez, o início da colonização italiana no Espírito Santo ocorreu 37 anos e 11 meses após, em 21 de fevereiro de 1874, quando o navio La Sofia chegou a porto de Vitória, com 388 camponeses trentinos e vênetos.
Vindo de encontro às informações de Kons, o Doutor em Língua e Cultura Italiana pela Universidade de São Paulo (USP), Everton Altmayer Leopoldino, destaca que “a nova lei não corresponde a verdade histórica por dois motivos”.
Segundo ele, a escolha de Santa Teresa se baseou na data de chegada do navio La Sofia, ligado àquela que ficou conhecida como Expedição Tabacchi, ocorrida em 1874.
“A expedição foi chefiada por um cidadão austríaco e foi feita com maioria absoluta de imigrantes austríacos de língua italiana oriundos da parte sul da província do Tirol, no Império Austríaco, região que foi ocupada e anexada pelo Reino da Itália após a Primeira Guerra Mundial”.
Leopoldino esclarece que a colonização italiana foi realizada muito antes deste período, conforme constatado por Kons, em 1836. Naquele tempo, o que se tornaria Reino da Itália (após 1860) ainda se chamava Reino da Sardenha, e por isso, conforme o Doutor em Língua e Cultura Italiana, há certa confusão na interpretação do fato, de modo que alguns estudos dizem que os imigrantes que fundaram a Colônia Nova Itália eram oriundos da ilha da Sardenha.
“Os defensores do título conferido a Santa Teresa afirmam que não é possível considerar a Colônia Nova Itália como pioneira porque o Reino da Itália não existia em 1836. Todavia, o nome Reino da Itália substituiu a denominação Reino da Sardenha no sangrento processo político que ficou conhecido como Unificação Italiana”, afirma Leopoldino.
Iniciativa é de deputado capixaba
A iniciativa da lei que concedeu o título a Santa Teresa como pioneira na colonização italiana foi do deputado federal Sérgio Vidigal (PDT-ES).
Questionado sobre a divergência da informação histórica, a assessoria de comunicação do parlamentar afirma que, oficialmente, a imigração italiana teve início no Brasil com a chegada do navio Rivadávia, que aportou em 31 de maio de 1875, com 150 famílias italianas, encaminhadas para Santa Leopoldina.
“Dentre as quais, 60 famílias seguiram para Timbuí, onde no dia 26 de junho de 1875 foram contempladas com lotes territoriais. Assim, nascia Santa Teresa, denominada então, a primeira cidade de colonização italiana do Brasil”, diz a assessoria, que aponta que a chegada das primeiras colônias da Itália para povoar no Brasil, em municípios das regiões Sul e Sudeste do Brasil, foi no século 19.
A lei 13.617, de 11 de janeiro de 2018, institui no calendário oficial brasileiro o dia 26 de junho como a Data do Reconhecimento do Município de Santa Teresa, no Espírito Santo, como Pioneiro da Imigração Italiana no Brasil. O texto já foi publicado no Diário Oficial da União (DOU).