Lula, a prisão à sua espera
A justiça é uma instituição que só tem razão de existir quando dispõe do poder de decidir, de forma soberana, sobre conflitos que envolvem os indivíduos e entidades públicas e privadas. Todos sabem e não se cansam de repetir que uma decisão judicial pode não agradar uma parte ou algumas pessoas envolvidas, mas deve ser cumprida obrigatoriamente. Mesmo que para isso seja necessário o uso da força. Sem essa força soberana de executar suas sentenças contra quem quer seja, fracos e poderosos, não existe justiça e a vida social pode virar um caos.
É evidente que muitos reclamam e, com razão, da morosidade da justiça. Também, é compreensível a insatisfação dos condenados pela justiça. Afinal, ninguém gosta de ser chamado à responsabilidade. Mas, nunca se viu, neste país, movimentos sindicais e partidários para afrontar e desacreditar a justiça ou contestar a validade de uma decisão criminal condenatória.
Lamentavelmente, é o que vem ocorrendo, desde a semana passada. A partir do julgamento do TRF, de Porto Alegre, que confirmou a condenação de Luiz Inácio Lula por corrupção e lavagem de dinheiro, petistas e dirigentes de alguns movimentos sociais estão contestando a validade da decisão. Não se constrangem em defender, em praça pública, um corrupto condenado pela justiça criminal de segundo grau. Sem coragem para falar de inocência – sabem muito bem que o líder supremo tem culpa em cartório – alegam falta de provas, perseguição política.
Gritam, aos quatro ventos, que se trata de condenação para impedir a candidatura presidencial de Lula. Negam a legitimidade do próprio poder judiciário, acusando a instituição de estar a serviço da imprensa, das elites e, até, pasmem, da opinião pública. Esquecem que se trata do judiciário que sempre tivemos. Esquecem que a grande maioria dos juízes da suprema corte e do TRF que condenou Lula foi nomeada por ele e Dilma Rousseff. Agora, a memória se derrete e a militância petista quer negar a legitimidade de uma justiça que seu ídolo de barro ajudou a constituir.
Na batalha inglória para salvar um condenado da cadeia, seus fieis seguidores, agora, prometem tumulto, rebelião e o caos social. Querem o chefe candidato a qualquer preço. Mesmo que isso represente um intolerável golpe contra a ordem constitucional e signifique rasgar a lei que o próprio Lula promulgou.
Cegos pelo fanatismo ideológico, não enxergam que o lugar de um condenado é na prisão, porque ninguém está acima da lei.