Especialmente aos amigos.

Estou quase chegando nos 40 anos. E me lembrei de um discurso que fiz aos 33 anos: sentia-me privilegiada por poder contar com um número de amigos que enchia as duas mãos. Realmente podia ter eles por perto em situações difíceis e de celebração. Nossa! Aquilo para mim era realmente uma conquista. As mesas dos bares, restaurantes e cafés que frequentávamos eram sempre cheias. Não tinha tempo ruim, nem cansaço suficientes para dizer não a um convite para uma conversa entre a turma de melhores amigos.

Hoje tudo é motivo para desculpas: falta de tempo, cansaço, trabalho, falta de vontade, preguiça, família, enfim… Sempre há uma questão nova ou velha para ser usada.

Fico me perguntando: o que aconteceu? Por que a distância entrou e nos separa?  Quando os encontros acontecem ainda são momentos incríveis. Conversas inteligentes, divertidas, profundas. A gente se entende e é como se nos conhecêssemos de outras vidas.

Será que a individualidade dos tempos líquidos, que o sociólogo Bauman discursa, faz parte da nossa vida também? Bauman acredita que nos sentimos mais seguros em nossos lares, teclando nas redes sociais, relacionando-nos de forma superficial e distante para nos protegermos dos conflitos reais das relações. Será?

Não queria ser tão pessimista quando o defensor dessa ideia, mas me parece que o distanciamento entre as pessoas é prova de que realmente a individualidade é marca da modernidade. Talvez seja só no meu mundo que isso esteja acontecendo. Talvez eu seja a única a ouvir: “precisamos marcar de nos encontrarmos mais vezes”, “fica para a próxima”, “vamos marcar”. Talvez o tempo fez com que interesses distintos nos afastassem. Talvez ainda, seja minha carência de amigos.

Qualquer que seja o motivo sinto falta das conversas reais. Cansada de receber “bom dias” e mensagens positivas dizendo o quanto é necessário viver o dia de hoje. Será que a gente poderia conversar sobre isso tudo olhando nos olhos uns dos outros? Rindo muito sobre nossos erros e celebrando os acertos?

Está na moda demonstrar sentimentos. Está na moda também expor as vulnerabilidades. Mas mesmo, se não estivesse, gostaria muito que todos, mesmo não sendo meus amigos, refletissem sobre o quanto é importante se fazer presente = que está no tempo atual, assistindo a um acontecimento pessoalmente.

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Clicia Helena Zimmermann – professora, consultora e especialista  em mapeamento de ciclos.