ilustração texto silviaNessa época de tantas manifestações por um melhor país, me vem a necessidade de refletir sobre manifestações necessárias em relação a nós próprias, mulheres que se dizem livres. Penso que ainda vivemos reféns de um cerco machista, por vezes induzidos e construídos por nós mesmas. Me pergunto, quais seriam as peculiaridades femininas hoje? Do que é feita nossa força, para além de peitos e bundas? Parece que falar de sensibilidade ou fragilidade virou sinônimo de fraqueza. Então hasteamos uma bandeira de heroínas da queima dos sutiãs. Não será por demais fora de época ainda mantermos essa postura?

Será que essa pseudo-liberdade não é um novo tipo de escravidão? Gosto de ver essa mulher independente, que corre atrás de seu sonho. Aquela que renuncia a maternidade por se ver mais importante em outro lugar. Gosto também daquela que assume a maternidade por se ver importante neste lugar. Gosto daquela que cuida do ninho. Que cuida do corpo. Que cuida do outro. Mas, me causa um estranhamento essa mulher que se presta a ser um bibelô de aparência, que usa sua sensualidade e muitas vezes sexualidade como prêmio, como arma, como troféu. Quem ganha com isso?  Nós ou eles? Alguém ganha?

Gostaria disso: de um manifesto feminino e não feminista. Onde as mulheres pudessem se colocar em toda sua plenitude. Trazerem também os homens que assim o desejem, para viver o afeto, o colo, o pranto, as incongruências, os desafios. Um feminino que não sucumba a um corpo metamorfoseado em estigma, mas que se reconhece em sua liberdade de ser.

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Sílvia Teske  – artista