Talvez possa soar um tanto radical da minha parte, mas, a partir da minha experiência, ou você tem um membro da família que compara a inabalável masculinidade das celebridades de antigamente com o comportamento “efeminado” das de hoje, ou você é esse parente. Clássico. Não sou capaz de julgar tal visão. De qualquer forma, vim contar uma história curiosa sobre o “primeiro galã do cinema”: Rodolfo Valentino.

Sua lenda está diretamente ligada à imagem que já carregava quando conquistou o cinema mudo da década de 1920: a do italiano moreno e sedutor, capaz de dançar o tango argentino e de possuir uma devoção inigualável por suas amadas. Por ter sido copiado tantas vezes, fica difícil imaginar o encanto que representava para as estadunidenses, alimentadas desde o nascimento com o ideal do “all-American boy”, cujas características poderiam ser encontradas em seu vizinho, seu pai ou seu irmão. Não havia ninguém em lugar nenhum como Rodolfo Valentino. Ele era a própria fantasia personificada, e seria improvável que alguém, atualmente, chamasse-o de “maricas” pela sua aparência e seus jeitos. Na época, porém, não foi bem assim.

O preconceito, alimentado pelo racismo com as origens de Valentino, culminou na publicação de um artigo no jornal Chicago Tribune que responsabilizava o ator pela “efeminação do homem americano”. O editorial, intitulado Pink Powder Puffs, foi motivado pela venda de pó facial em banheiros masculinos e chegava a desejar que alguém tivesse afogado Rodolfo há anos. Ofendido pelo deboche, que se estendeu até mesmo ao seu sobrenome, o galã desafiou o autor da publicação a uma luta de boxe, sem obter resposta. Um jornalista chamado Frank O’Neill se ofereceu no lugar. A disputa ocorreu no terraço de um hotel em Nova Iorque, tendo como vencedor justamente aquele que foi tão criticado por distorcer o conceito de masculinidade. Irônico, não?

Másculo ou não, Rodolfo Valentino faleceu em 1926, aos 31 anos, em decorrência de uma peritonite. Quem duvida que sua influência tenha sido significativa esquece que ele apreceu até em letra de Prince, e também de Rita Lee. E, embora lutas de boxe não provem nada para ninguém, eu adoraria vê-las acontecer novamente nesse mesmo contexto. Os piadistas da família que se cuidem!


Ana Alvarenga
– estudante