Meus heróis não morreram de overdose
Admiro muito o general Maximus, personagem de Russel Crowe no filme “Gladiador”. Há nele uma força de caráter que é sumamente invejável. Afinal, o que faz uma pessoa, na condição de escravo, despertar mais respeito que um imperador?
Vejamos pela ótica do imperador Commodus, interpretado por Joaquin Phoenix. Trata-se de um inútil, despreparado, movido apenas por interesses mesquinhos, que assume o poder de modo ilegítimo e o mantém na base da força e da chantagem. Os que escolhem esse caminho querem a fama, o sucesso, as riquezas, mas não se empenham em conquistá-los.
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Como os filhos que recebem tudo de mão beijada e não sabem valorizar o que têm, fazem do que é externo a ruína da alma. Eles não entendem que o maior patrimônio de uma pessoa está no seu interior, mas precisa ser lapidado para que seu valor apareça. Assim, podem ter muito, mas não são coisa nenhuma.
Os que se espelham no imperador querem os frutos, mas não se empenham em plantar e manter a árvore. Querem o conhecimento, mas acham que um computador conectado ao Google já é suficiente. Querem riqueza, mas com pouco trabalho. Querem fama e sucesso, mas esperam alcançá-los por um lance de sorte, não por méritos reconhecidos.
No caso de Maximus se dá o contrário. Ele encarna o líder respeitado e amado por seus soldados, para quem é uma honra poder morrer combatendo ao seu lado. Mas como se forja um Maximus? Como os heróis gregos, treinados pelo centauro Quíron, ele encarna a excelência do guerreiro, que, para além da força física ou da brutalidade, tempera o caráter com a disciplina, o autocontrole, a virtude provada nos momentos em que se devem fazer as escolhas mais difíceis.
Assim se formam os verdadeiros heróis, realmente dignos da nossa admiração. Não se impõem pela força, mas atraem pelo caráter e lideram pelo seu carisma e pelos seus méritos. Como os personagens da ficção, figuras bem reais podem compor esse elenco.
No século XX, presenciamos o carisma e a dedicação de líderes como Gandhi, Luther King, Madre Teresa ou João Paulo II. Sonho com um tempo em que figuras como essas possam ser os heróis das nossas crianças e jovens. Que possam colar suas estampas nos armários, ler suas biografias, inspirar-se na sua nobreza de caráter, sonhar com sua grandeza, e não com a futilidade das porno-celebridades ou com a fama efêmera de artistas de quinta categoria.
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O problema é que espelhar-se nos “grandes” tem um custo, pouco atraente, sobretudo para nossa época de facilidades. Mas há cada vez mais gente procurando fazer da vida algo realmente significativo.
Não o fazem libertando a Índia, enfrentando o comunismo, o apartheid, ou cuidando dos miseráveis de Calcutá. Esse heroísmo pode ser exercitado simplesmente colocando a alma nas coisas que fazemos no cotidiano, no trabalho, no estudo, empenhando a energia do espírito no intuito de ir além de uma existência medíocre. O nos torna heróis é a dedicação com que nos entregarmos às nossas tarefas, não importa quais sejam. Que uma juventude inspirada por verdadeiros heróis possa preparar para nós um futuro mais digno da nossa humanidade.