Faz algumas semanas, trouxe para as Beltranas a conversa sobre o excesso de embalagem que nos leva a produzir um lixo absolutamente insustentável. Depois disso, é como se uma onda de consciência sobre consumo estivesse passando por nós, coletivamente… e chegando até mim. A cada dia, uma faceta do assunto aparece na minha frente, dando uma cutucada básica na preguiça que todos temos em iniciar mudanças.

 

Semana passada foi a vez de uma discussão que chegou a vários portais: a repetição do mesmo vestido e botas por parte de uma participante do MasterChef Brasil. A física Caroline Martins, depois de tanta crítica nas redes sociais, resolveu fazer um textão explicando sua escolha por um guarda-roupa limitado. Para resumir, ela explica que, depois de anos priorizando investir na própria imagem, para estar de acordo com o padrão socialmente aceito, de repente ela teve uma epifania.

Aos 27 anos me preparava para iniciar um pós-doutorado nos Estados Unidos. Tinha tudo para estar em êxtase. Porém, a ideia de iniciar uma nova fase em outro país estava me causando mais ansiedade do que felicidade. E se não gostarem de mim?

Será que estou muito gorda? Será que a minha pele está manchada? Será que meu megahair está hidratado? Como vou levar tanta roupa/sapato se o limite de peso da mala é 32 quilos? Será que as minhas roupas e calçados estão ultrapassados? Brega? Fora de moda?

Até que me dei conta: por que diabos estas perguntas estão brotando na minha cabeça neste momento? Por que estou tão focada na minha aparência, ao invés de estar focada nesta oportunidade estupenda de se viver em outro país, conhecer outra cultura, visitar novos lugares e trabalhar ao lado de feras da minha área?

Neste vórtex de ansiedade e conflito, resolvi fazer o seguinte experimento: eu me mudaria para Austin levando uma mala com apenas 6 trocas de roupa e 2 pares de calçados. Eu passaria seis meses com “apenas” estas coisas. A minha mãe achou que eu estivesse ficando louca. E eu realmente estava. Louca e cansada de carregar tanta bagagem, tantas opções de vestimenta, e mesmo assim tanta insegurança sobre a opinião das pessoas a meu respeito. ”

O textão é maior ainda: ela explica que, depois de ter voltado dos States, continuou vivendo dentro da filosofia minimalista, usando o dinheiro que começou a sobrar para viver experiências que dão prazer a ela, como um bom vinho, viagens, reuniões com amigos.

Minimalismo. Para mim, até agora, isso tinha outro significado. Era muito mais estético do que uma visão de mundo fora das artes e arquitetura. Mas, por uma daquelas sincronicidades boas, eis que um amigo meu recomenda o documentário Minimalism, que está disponível na nossa Santa Netflix de Cada Dia. E foi então que descobri que esse desapego do consumo compulsório é uma tendência atual forte e que isso já começou há alguns anos. Claro, já tinha visto alguns projetos e já tinha sentido o quanto estamos em um caminho insustentável. Mas ainda não tinha identificado um movimento, com nome, com seus gurus (sem ofensas!) e, principalmente, com sua rede de apoio a quem está procurando um caminho para ser mais feliz e não sabe por onde começar.

Não que exista uma receita de bolo para seguir, mas é sempre bom conhecer as experiências dos outros. A gente não precisa ter seis mudas de roupa, como a Caroline. Nem precisa seguir a proposta do 333 Project, que desafia a gente a viver 3 meses com 33 peças de vestuário – calçados e acessórios incluídos. Mas pode procurar uma simplicidade pessoal, desapegando do que não nos acrescenta algo ou perguntando antes de comprar alguma coisa: “isso é útil para mim”?

Tempo é dinheiro. E dinheiro é tempo: o dinheiro que a gente gasta foi “comprado” com horas de trabalho. Com nosso tempo de vida. Pensar se estamos fazendo uma troca inteligente, que nos deixe mais felizes, é um tremendo primeiro passo para chegar em algo que chegue perto do minimalismo. No documentário, é dito que, se você ama livros, não é preciso desapegar da sua biblioteca. Mas não tem porque manter uma estante lotada, pegando poeira, se você nem lembra que seus livros existem. Gavetas lotadas de utensílios de cozinha, roupas que você não se sente bem usando, móveis demais, coisas demais… É disso que precisamos?

É claro que é muito fácil falar em trabalhar menos e viver mais, quando não seremos todos capazes de viver de palestras e de escrever livros sobre o desapego. Esta costuma ser uma falha no discurso dos gurus, eles encontram uma solução que não é aplicável ao comum dos mortais. Mas, de saída, dá para ter certeza de que sem questionamento, não há resposta e não há mudança. Encontrar as perguntas certas (talvez “sou feliz do jeito que estou vivendo?” seja a primeira…) e levar a sério a procura das respostas pode transformar as nossas vidas. Quem quer tentar?

 

Claudia Bia – jornalista em eterno processo de desapego