A fé de um povo já o fez fazer guerras e amor. Neste caso, a religião islâmica produziu uma curiosa e encantadora arte. Quase toda a criação mosaicista árabe é influenciada pelos preceitos muçulmanos de oração, jejum e peregrinação. Com forte influência do mosaico bizantino.
Faz alguns anos que sou apaixonada pelo mosaico islâmico. Uma das coisas que mais me fascina é saber que todo este trabalho é possível sem representar a figura humana, que é uma das proibições religiosas islâmicas. Esta privação só fez com que os mosaicistas islâmicos criassem uma nova referência de concepção: a abstração com composições geométricas. A sua inspiração seriam os vegetais, as formas caligráficas. Todo este trabalho foi desenvolvido sem que os árabes soubessem que se utilizavam de conceitos matemáticos avançados. Além da fantástica riqueza cromática que soa “tanto brasileira”.
Da pedra dura eles passaram ao uso de cerâmicas esmaltadas e multicoloridas e em formatos que pudessem ser reproduzidos por infinitas vezes. Com a predominância do brilho e da luminosidade, a arte desta fé encanta cada vez mais pessoas, que hoje reconhecem a sofisticada lógica utilizada na composição dos mesmos.
Para os curiosos como eu, o site Patterns in Islamic é uma excelente opção para quem busca conhecer um pouco mais. A página conta com um acervo de mais de 4000 imagens, além de informações sobre a origem da arte e da arquitetura Islâmica.
Mais interessante do que a maneira inteligente com a qual os árabes lidaram com a privação de não poderem utilizar a figura humana, é a forma como sentem esta arte. Para eles a geometria representa: o mundo perfeito (o espiritual). E como “imitar” de forma tão “fictícia” da realidade a figura humana¿ As obras de Deus não podiam sofrer esta agressão, logo, eram representadas por abstrações, como por exemplo, a presença de luz.
Veja quanto respeito! Que sensibilidade! Quanto amor e quanta presença.
Outrora, aprendi. Que a abstração também pode ser a presença do essencial, daquilo que não nos permitimos demonstrar de outra forma que não seja a mais pura e verdadeira.
Embora no Brasil se calcule que exista cerca de um milhão de muçulmanos que migraram da Síria, do Líbano, do Egito, da Palestina e que houve crescimento da religião islâmica em nosso pais, devido a liberdade de culto, a expressão deste povo ainda é pouco presente.
Raras são as obras encontradas em área pública. E as que existem, geralmente foram doações de alguma embaixada árabe. Exemplo disto, foi o monumento doado pela embaixada do Marrocos à São Paulo, uma obra magnifica, em mosaicos geométricos multicoloridos, executado pelo sindicato dos artesãos da cidade de Fez.
Esta obra é guardada por uma grade para evitar pichações e não está em nenhum roteiro turístico ou de passeio pelos monumentos da cidade. Embora esteja “entrando na moda” adquirir peças marroquinas, decorativas, pequenas, o interesse brasileiro por esta valorosa arte está muito aquém do que ela carrega em seus traços.
A fé de um povo,
Simbolizada na arte de uma cultura milenar
Méroli Habitzreuter – escritora e ativista cultural