Política, religião, sexualidade, moda, comportamento, racismo e relacionamentos. Quando aparece a tensão relacionada a algum desses temas, há que se buscar um escape. Se não é possível resolver, procura-se falar e, melhor ainda, rir do assunto. Surge o bobo da corte que entretém o rei e, ao mesmo tempo, o ironiza. O palhaço popular que se veste e pinta para apontar o dedo de forma segura, convidando a plateia para rir dele, do outro, de si mesma. O menestrel que apresenta a tensão de uma situação e propõe o riso como desfecho.
Na história da comédia sempre houve esse artista. Ele aparenta ser “gente comum”, não usa figurino nem cenários e não se revela como personagem. No início dos anos 60, nos Estados Unidos, aparece sua versão moderna e que ainda se mantém neste estilo: o comediante. Nascia o gênero stand-up comedy ou, em bom português “comédia em pé”, introduzido no Brasil por José Vasconcellos. Mais próximos ao estilo americano, Chico Anysio e Jô Soares se apresentavam em shows ao vivo e também na abertura de seus programas de TV.
O material do comediante de stand-up tem uma metodologia própria de organização, em temas por tópicos, e o texto geralmente é dito como que por improviso. Os temas giram em torno de fatos, notícias do dia, não em piadas prontas e anedotas. O texto é sempre original, quase sempre redigido pelo próprio ator.
Hoje são inúmeros os comediantes que se dedicam a este gênero no Brasil. Seus shows costumam lotar casas de eventos e fazem sucesso na Internet. Em Brusque, no teatro do CESCB já há dois agendados: dia 22 de setembro, quatro humoristas do canal Pagode da Ofensa na Web se apresentam às 21 horas e, em 6 de outubro é a vez de Dete e Lodi às 20 horas.
Risada nervosa
Com o show intitulado Nanette, a comediante australiana Hannah Gadsby tem surpreendido os espectadores da Netflix. O que inicia com uma série de trocadilhos sarcásticos, acompanhados muitas vezes de um sorriso (raridade entre humoristas desse gênero, que sempre fazem cara de desentendidos ou indignados ao final da piada), transforma-se num discurso inflamado sobre questões pessoais, doloridas e sociais.
Nanette é um soco no estômago, uma lição de empatia, num jogo alternado entre doçura e acidez. Altamente recomendável nesses tempos de estupidez e crueldade humanas.
Hannah questiona o humor, o seu próprio, como ferramenta de curar feridas e arremata: “Rir não é o remédio. O que cura são as histórias. O riso é só o mel que adoça o remédio amargo”.
Lieza Neves – atriz, escritora e produtora cultural