As expectativas não nos permitem viver em liberdade, aceitando o curso das coisas, já que acreditamos que pelo fato de desejarmos algo de verdade, seja aprovação, perfeição ou comodidade, isso tem que obrigatoriamente ocorrer. A realidade é que o que tiver que acontecer irá acontecer, estejamos ou não de acordo.
As pessoas às vezes pretendem tomar o papel fantasioso de divindade. Pensamos erroneamente usando o “deveria” para nós mesmos, os demais e a vida em geral. Dizemos coisas como “meu chefe deveria me tratar bem e não gritar comigo”, “as coisas deveriam sempre sair bem e com pouco esforço” ou “eu devo fazer meu trabalho bem porque senão significa que sou um inútil”. O que nós pensamos ser? Juízes? Quem pode dizer o que deveria ou não deveria ser?
A vida é feita de incontáveis trocas. As mãos exercitam a alternância: um dia você recebe, outro você doa. A alegria deve acompanhar o ato de dar e receber. Bondade não combina com tristeza. Se for de má vontade, melhor não ofertar. Por outro lado, muitos aguardam por retornos. Além disso, calculam e quantificam nos mínimos detalhes.
A gratuidade tem se ausentado facilmente. Espera-se muito dos outros. Os parâmetros utilizados nem sempre são os mais adequados. Nem todas as pessoas pensam como você. O coração de quem está ao seu lado, não pulsa no mesmo ritmo que o seu. Cada um é um. Criar expectativas pode gerar frustração. De fato, as diferenças não podem ser disfarçadas por muito tempo.
Esperar muito dos outros pode gerar distanciamentos, além de considerável desconforto. Quantas amizades desfeitas, quantas belas histórias interrompidas por quase nada. O verdadeiro amor é criativo, se faz doação sem limites. Impossível construir laços que alcancem a eternidade, sem exercitar o desapego e a alegria de simplesmente dar sem esperar algo em troca. Não convém gastar tempo querendo que os outros tenham a mesma atitude que a sua.
Magoar-se porque não houve retribuição, é perda de tempo. Trata-se de um desgaste desnecessário. A vida seria muito mais espontânea se as pessoas simplesmente amassem, evitando todo e qualquer comparativo. Esperar muito dos outros não faz bem ao coração, que existe unicamente para amar. Que o bem realizado inspire aquela felicidade, que todos buscam sem cessar.
Pensemos que o amor é um carro sendo conduzido por uma estrada imensa e cheia de vias duplas, cruzamentos, subidas, descidas, curvas e até paragens. O bom é que este carro pode fazer o que quiser nesta estrada. Se estiver numa via única, pode ser que este automóvel seja tão evoluído que se baste e só precise seguir o seu trajeto.
Talvez nosso automóvel precise e goste de permanecer sozinho na estrada por um determinado tempo da viagem. Acredito que todos precisamos aprender a conduzir apenas apreciando a paisagem da estrada, sentindo aquela brisa no rosto, sem um único som, apenas admirando e respeitando a sinalização.
Pode ser que o motorista tenha derrapado em alguma curva sinuosa e avariado um pouco a lataria, quebrado a lanterna e até se machucado. Mas nada que não tenha conserto e cura. Alguns arranhões contam aventuras incríveis. E, com certeza, torna este carro e seu motorista únicos.
Pode ser também que este carro precise de uma paragem para trocar pneus, abastecer ou simplesmente descansar o motor. Porém, atenção com o tempo. Ele pode apenas descansar as engrenagens para prosseguir serenamente ou esfriar demais, travar e causar danos irreversíveis ao motor. Mas, se seu automóvel está nas vias duplas, atenção ao que a estrada te reserva. Atente-se ao percurso e sua sinalização.
Muitos carros vão cruzar seu caminho, alguns vão ultrapassar, outros te seguir por um período e até descansar com você, alguns vão pedir carona e uns poucos vão dividir a condução deste carro contigo. Esta é a melhor viagem, independentemente da estrada. Deixe dirigi-los com você. Não seja o único a percorrer o caminho. O outro motorista também precisa de treino e descanso. Retribuição e condução conjunta ainda é o melhor combustível para o amor.
Imagine ter uma amiga que você está sempre ouvindo, aconselhando e comemorando suas glórias, mas que nunca pode ouvir, sofrer ou comemorar por você? E um casal onde o outro está sempre a compreender, tolerar, aceitar, esperar? Será mesmo uma parceria benéfica?
Sei que é melhor criar elefantes rosas do que expectativas, mas faz parte! E nem sempre a falha e o desamor está em você, na sua visão. Às vezes, o outro realmente não está pronto para aquela experiência ou simplesmente não está pronto para você e o seu amor.
Não é a velha história de que alguém vai te completar, pois já entendemos que isto não existe, mas entendermos que talvez, naquele momento, aquela pessoa e/ou experiência não se adeque a nós e às experiências que queremos. Então, precisamos saber a hora de amorosamente nos retirarmos de um relacionamento que não nos honra. Não é que você deixe de amar, apenas vai amar à distância, de uma nova maneira, pois o seu tempo de receber aquela experiência pode ter esgotado. Se uma situação amorosa não lhe deixa confortável, é melhor transmutá-la e dar a chance das partes serem amorosamente felizes de outra forma. É o deixar de ser mártir e usar o poder que há em você para seguir adiante. É se desapegar para evoluir. Evolução implica escolhas e cada escolha traz uma renúncia.
No entanto, se você tem medo ou culpa pode se prender numa situação embaraçosa, na qual você fica numa condição de não receber o que distribui. Isto é um erro capital. É desamor por você mesmo e, quem não ama a si, verdadeiramente não ama o outro, apenas tem uma necessidade de viver aquela experiência.
Portanto, saiba que se você ama sozinho, talvez seja melhor guardar a história no coração e seguir sua vida adiante, pois quem tem tanto amor a ponto de não precisar ou querer retribuição, deve continuar a distribuí-lo a todos, sem exceção.
Cristiane de Souza – 18 anos – Estudante de línguas