João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Natal 2024: festa cristã ou gastronômica?

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Natal 2024: festa cristã ou gastronômica?

João José Leal

Uma nova festa natalina está batendo às nossas portas. Já não é mais como antigamente e isso é normal. Afinal, a vida humana e os seus costumes mudam e continuarão inexoravelmente se transformando. De qualquer forma, no mundo ocidental que se diz cristão, Natal continua sendo um convite ao reencontro da família, que já não é tão numerosa como no tempo da minha e das gerações anteriores.

A verdade é que a família natalina dos tempos modernos não passa de um ou dois filhos, porque três já é demais e de quatro ou cinco netos, além dos avós. Estes — a eufemística terceira idade se estendendo cada vez — vão acumulando natais em suas vidas de mais 70 e 80 anos e isto ajuda a manter o quórum das festas natalinas do mundo virtual e da inteligência artificial. Esta, de tão prodigiosa e fantástica, promete milagres e maravilhas que poderão acabar com o que restou de magia do Natal deste século cibernético.

Natal pode ter Pai Nosso, Noite Feliz e outras manifestações do credo religioso ou da ética cristã. Mas o jantar sempre estará à espera do “bom” cristão que, claro, não é de ferro para resistir a umas boas garfadas numa apetitosa coxa de peru assado. Isso, se o preço couber no bolso da tribo natalina que não integra o privilegiado clube dos que, com ou sem trabalho e suor, vivem no topo da nossa excludente pirâmide social.

A meu ver, não deixa de ser contraditório reverenciar o nascimento de Cristo, simbolizado numa humilde criança nazarena tão pobre que teve por berço uma manjedoura e por lar um estábulo, com uma festa gastronômica regada a vinho e outras bebidas alcoólicas. No entanto, carregamos o pecado original da gula e da imperfeição ética. Estamos destinados a viver em meio a contradições. Pregamos fazer o bem, mas praticamos ações nem sempre louváveis ou coerentes com o nosso discurso. Queremos trilhar o bom caminho, mas de vez em quando desviamos por atalhos pouco recomendáveis.

Quanto ao vinho, o que nos deixa tranquilo é que Cristo, ele próprio, não rejeitava um bom cálice de vinho. Tanto que, a pedido de sua mãe e para alegria dos convidados de uma festa, realizou o milagre da transformação da água em vinho. E, na última ceia, não deixou de oferecer o cálice do vinho da comunhão cristã aos seus apóstolos. Ao menos, é o que nos conta o Novo Testamento da compreensão, da concórdia, do amor ao próximo e da tolerância a um bom cálice de vinho, desde que não passe de dois ou três. Afinal, tudo que é demais, até remédio além da dose, não é bom e faz mal.

Com ou sem peru assado, por muito tempo uma galinha já era bastante, muitos natais passei em minha já longeva vida de alegrias e tristezas, conquistas e frustrações, vitórias e derrotas, porque a vida é uma gangorra de altos e baixos. No ea noite de Natal — a família reunida e reconciliada — não há espaço para lembrar tristezas, problemas e fracassos.

E, na próxima quarta-feira, mais uma vez, espero estar reunido com minha esposa, meus filhos e netos.

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