Para tanto, é exigido da sociedade uma forma de pensar mais complexa, enxergar o todo. Não se pode acreditar que é possível resolver questões amplas com respostas simplistas, reduzidas a um parágrafo em uma rede social. Os problemas sociais que enfrentamos precisam ser tratados com seriedade e multidisciplinariedade que exigem.

Por isso, não se pode privilegiar um conhecimento em detrimento do outro. Todos são importantes.

A racionalidade, ligada à ciência moderna do século XVI, contribuiu muito para grandes descobertas nas ciências exatas.  Depois, os mesmos métodos foram aplicados nas ciências naturais e sociais, e durante muito tempo acreditou-se na relação causa-efeito, e que para desvendar os mistérios do mundo, seria necessário determinismo e linearidade. Controle e linearidade tornaram-se a força matriz do desenvolvimento de vários estudos, pesquisas e teorias. Tais aspectos levaram inclusive a compreender o homem sob esse prisma, esquecendo-se de toda a essência orgânica, emocional, intuitiva, e a considerá-lo um ser unicamente racional.

O enaltecimento das ciências exatas, durante longo período, gerou duas principais consequências: Primeiro, que para conhecer algo era preciso quantificar e medir – as qualidades mais profundas não eram mais valorizadas, e o que passa a ter valor são as quantidades. Em segundo lugar, o reducionismo, que significa dividir e classificar, para depois então fazer relações sistemáticas entre o que se separou.

Muito do que conhecemos ficou formatado nessa racionalidade: as disciplinas na escola, os setores nas empresas, as especializações na saúde, e assim por diante.

Nas ciências sociais, especificamente da Administração, apesar de as evoluções no tempo, todos os esforços eram para que, ao final, o melhor modelo, a melhor receita fosse indicada e, enfim, os resultados da organização alcançados. Mais uma vez, a relação causa-efeito, a fragmentação para explicação de tudo, a ilusão de que o controle seria possível.

Porém, a partir das primeiras décadas do século XX, a visão de um mundo em perfeito equilíbrio, organizado, com uma natureza passiva, estava prestes a ser desconstruída. As descobertas da física quântica, estudos de Einstein sobre a relatividade e o princípio da incerteza de Heisenberg mudaram drasticamente as muitas formas de explicar o mundo. As pesquisas avançaram, e uma realidade sujeita a ordem e desordem, simultaneamente, incertezas e não linearidade começam a ser consideradas.

Assim, uma nova corrente nos auxilia nas reflexões necessárias à situação em que vivemos. Esses conhecimentos, elaborados em princípios, são conhecidos como pensamento complexo, teoria da complexidade, paradigma emergente e/ou pensamento sistêmico. Os nomes que os autores usam podem apresentar-se diferentes, mas todos convergem para algo em comum: considerar o mundo dialógico.  Não podemos mais pensar na separação e nos extremos: certo e errado, ordem e desordem, direita e esquerda, razão e emoção, espiritualidade e ciência, etc. As partes estão no todo, bem como o todo está nas partes.

Para se viver e compreender o mundo contemporâneo, é preciso estar aberto e atento aos olhares diversos, incluindo a interdisciplinariedade e transdisciplinariedade. Considerar as inteligências multiplas do ser humano, e todas as ciências: humanas, exatas e biológicas. Inclusive, é preciso resgatar o conhecimento empírico, durante muito tempo hostilizado. É considerável então, que enxergar os problemas e situações complexas, com uma visão determista de poder e controle sobre as situações, contribui para distorções na real compreensão da realidade. Afinal, não há mais espaço para verdades absolutas ditadas de forma unilateral.

Estou persuadido de que um dos aspectos da crise do nosso século é o estado de barbárie das nossas ideias, o estado de pré-história da mente humana que ainda é dominada por conceitos, por teorias, por doutrinas que ela produziu, do mesmo modo que achamos que os homens primitivos eram dominados por mitos e por magias. Nossos predecessores tinham mitos mais concretos. Nós somos controlados por poderes abstratos. (MORIN, 2005, p. 193).

 

 

 

 

 

 

 


Clicia Helena Zimmermann
– professora