O pedreiro aposentado Ivo Piva, de 86 anos, antes de iniciar na profissão, foi para o seminário, no Pinheiral, em Major Gercino. Na época ele tinha 13 anos. Ele ficou um mês no local, onde descobriu que, enquanto os seminaristas comiam “carcaça”, os padres comiam churrasco de boi.
Um dia, Piva e um colega do seminário furtaram o churrasco dos padres, e um deles descobriu, expulsando os meninos do local. Rindo da proeza, eles pegaram seus pertences, que consistiam em uma sacola cada um, e foram embora a pé.
Na vida de pedreiro, ele iniciou com 15 anos, como servente e trabalhava com os primos Vital Tomazoni e Lidio Piva, que já atuavam na área. Sua primeira obra foi uma igreja na localidade de Cinema, em Vidal Ramos.
Piva comenta que o trabalho começava assim que o dia amanhecesse, e só parava quando o sol saía. Os pedreiros se alojaram na residência de um “alemão”, e ficavam a semana toda na obra. Nesse período, o então servente não recebia salário, “nós precisávamos aprender, não é como hoje que entramos e já começa a ganhar dinheiro”.
Após a experiência, ele trabalhou por anos em Ascurra, na construção do colégio paroquial, chamado Colégio São Paulo. Ele saía de nova Trento de bicicleta às quatro da manhã, e chegava em Ascurra próximo das quatro da tarde.
Apesar de considerar uma época sofrida, Piva comenta que gostava de trabalhar lá. Os padres diocesanos vinham visitar a obra e “eles davam comida, lavavam roupa, e o seminarista mandava um litro de cachaça para os pedreiros todo dia às 11h, e às 18h30, enviado pelo padre”.
Na época em que ia até Ascurra de bicicleta, ele recorda que a famosa rua XV de Novembro, de Blumenau, estava recebendo calçamento. Foi nesse período que Piva conheceu sua futura esposa, Olávia Picoli Piva.
Eles se casaram e Piva continuou a trabalhar como pedreiro, e construiu diversas estufas para fumo em Nova Trento. “Quando a minha esposa estava grávida, eu sempre trabalha por perto, e plantava fumo, cana de açúcar, mandioca, arroz e milho”.
A cana era vendida para a antiga Usati, em São João Batista. Parte da mandioca era vendida para os engenhos de farinha, para o Vitório Tridapalli, o milho era levado para uma tafona que se localizava próximo a Sociedade Recreativa Humaitá, para fazer a farinha de milho. Ele também construiu a própria casa, onde mora até hoje, com a ajuda da esposa, que fazia a massa, e dos filhos que traziam a massa no balde para o pai.
O pedreiro também trabalhou em Blumenau, onde seus conhecimentos foram usados em construções bem específicas. Piva construía fogões a lenha, chaminés, e conta que a esposa dele fazia fornos de pão.
Apesar de ter gostado da profissão que exerceu durante anos, ele considera que “a vida era ruim, não tinha dinheiro, tinha era comida, comida tinha mais do que hoje”.
A partir de 1969, com a substituição da carteira profissional pela carteira de trabalho, ele comenta que o trabalho era mais garantido e construiu prédios em Blumenau e Florianópolis, com os empreiteiros Paládio e Galdino Feller.
“Já era melhor, nós ficávamos em uma casa, tinha cozinheira, tinha encarregado, e o trabalho era dez horas por dia”, lembra o aposentado, que recorda de um funcionário na obra apelidado de “gato”, que realizava o pagamento dos funcionários de acordo com as horas trabalhadas.
Em 1976, Piva trabalhou na reforma da Casa de Retiro dos Padres Jesuítas, no Morro das Pedras, em Florianópolis. No local, ele fazia a colocação de calhas no telhado, mas comenta que “muita gente mandava”, e não gostava desse tipo de situação, indo embora. “Fiquei um mês, era muito frio e o vento levava tudo.”
O filho de Ivo, Edgar Piva, conta que na infância era tradição que o filho mais velho ir para o seminário e a filha mais velha para convento. Na época muitos neotrentinos se tornavam seminaristas, inclusive ele.
Nas férias do seminário trabalhava de servente de pedreiro com o tio Luiz Orsi, que tinha empreiteira. Ele não chegou a se ordenar padre, mas concluiu o mestrado e se tornou professor universitário.
Seu irmão, Lily Piva, não chegou a entrar no seminário e trabalhou como pedreiro. Há mais de 40 anos trabalha com a construção civil e há 24 anos abriu sua empresa e atua como empreiteiro, também na área.
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