Ninguém aprende Inglês na escola. E ó que os pequenos lá da educação infantil já têm aulas de Inglês ao menos uma vez na semana. Começam cedo e saem do Ensino Médio sem saber nada. Não é?
Não, não é. É senso comum. Pergunte-se novamente:
– Nada? O que seria aprender tudo em qualquer língua estrangeira que fosse?
Costumo trocar de lugar as disciplinas quando estudantes me trazem essa, ou até os pais, confusos de tantas obrigações escolares, dizem para mim que o filho ou filha não estão indo bem em Inglês porque não fazem aulas em escolas de idiomas.
Voltemos para o exercício. O que você sabe de Biologia ao fim do 3ão? Ou de Física? Caso você seja um aluno escolarizado, do tipo que não precisa de ameaça ou monitoramento para estudar, provavelmente questões mais recentes das matérias estudadas e um basicão você domina – desconsidero aqui os que esquartejam os livros em nome de uma vaga nas universidades e que, certamente, saem do colégio sabendo muito teoricamente sobre todos os conteúdos, inclusive os de Inglês. Só não saberia dizer por quanto tempo, pois trata-se de decoreba em grandes quantidades goela abaixo.
Os cinco reinos dos seres vivos na biologia, estática e equilíbrio na física, alguma coisa das duas guerras mundiais… um tanto disso aí está “inserido” na memória de boa parte dos estudantes ao fim da educação básica. Ou seja, detalhes, fórmulas específicas, nomenclatura, minúcias da biologia, química ou matemática não estão na ponta da língua dessa galera após uma semana depois de uma prova. Por que o inglês estaria?
Conhecer um idioma profundamente exige mais do que dois encontros semanais de 45 minutos compartilhados entre tantos em uma sala de aula. O possível é ter uma noção da língua, é possível guiar a criança ou o adolescente à compreensão do que é língua dentro de um processo de assimilação lento em comparação com sua língua materna. É construir significados, dar conta de aprender um repertório de vocabulário solto, palavras livres e aos poucos a edificação de frases e, com muita dedicação, constituir-se um ser discursivo no uso da língua estrangeira. Mas, o discurso não é o objetivo da educação básica, a finalidade é fazer o aluno enxergar sua natureza sociointeracional e ser ativo no ensino-aprendizagem em todas as disciplinas. Todavia o vestibular dá uma avacalhada na parte bonita da coisa.
Outro exercício que já propus aos meus pupilos, selecionei algumas músicas em russo, alemão, japonês, árabe, francês e inglês. Todas confrontadas dentro de um estilo semelhante, RAP francês, RAP russo, RAP japonês (sim, existe!) e, finalmente, um RAP em Inglês. A brincadeira é: quando ouvirem a música que for em língua inglesa, digam! Bingo! Raríssimas vezes erraram, para não dizer que nunca, quando usei um rock pesado em inglês escocês, nem todos perceberam que era em inglês. Mas qualquer música em inglês, principalmente com o todo poderoso sotaque do “american english”, é batata.
E, aí? Não sabem nada? Sabem! Os ouvidos dos estudantes brasileiros estão muitíssimo familiarizados, afinados com a sonoridade da língua dos ingleses. O salto para o diálogo com um gringo é outra história, mas a sensibilidade está lá. Seguinte, experimente solicitar ao estudante adolescente para que faça uma lista das palavras que conhece em inglês em comparação com a quantidade de conceitos em filosofia, ou datas e acontecimentos históricos, ou princípios matemáticos ou nomes e obras em literatura. Equiparou?
Sabe-se que parte das palavras, expressões vêm da influência de tais países na nossa cultura, mas a molecada, diante do mínimo que dá bola para as aulas de inglês, até que pega umas coisinhas. “The book is on the table”, “the cat is in the box”, “can I drink some water?” entre outras, não são sentenças absorvidas em filmes ou músicas. Foi na escola. Imaginem se as aulas de Inglês do colégio não se traduzissem naquele momento: – Uhuuu! Massa! Aula de inglês, só zueira.
Qual a importância que alunos e até pais dão às aulas de inglês em comparação as de língua portuguesa ou química? Quais tarefas apavoram mais? Se tirar nota baixa em inglês é o mesmo que tirar em geografia ou física? Falta que argumento para convencer que essa disciplina, entre quase todas, fará muita diferença no currículo?
Domar, imperar um idioma leva anos. Como também assegurar que você aprendeu todas as bacias hidrográficas para sempre, saber de fato, leva muuuuuito tempo, e escolhas. A escola básica quer, adivinhem? O básico. Que não se resume em horas sentados fitando o quadro, se estende por outras horas fora do ambiente escolar no cumprimento do que ele te propõe. Quem faz isso aprende pacas na escola.
O mesmo vale para as escolas de idiomas, no entanto elas incluirão com mais horas competências da oralidade, audição, por exemplo, com beeeemm menos gente na sala, e um preço mais específico também. Qual a diferença de postura do aluno na escola e no curso de idiomas. Saca?
Não aprendeu nada de inglês na escola? Du-vi-do! Poderia ter ampliado mais? Sim, não o fez pois priorizou outras coisas. E, tudo bem, sabe… Nem todos nos rendemos ao formato tradicional e engessado de quase toda escola – ela mesma é refém do que o mercado quer. Tudo bem, tudo bem e tudo bem. Mas não jogue a “culpa” nas aulas de inglês do colégio. Sair do lugar cômodo e passivo de aprendiz, assumir, atuar é mais coerente. Se você ou seu filho não aprendeu qualquer coisa em inglês, principalmente quem estudou nesta última década da escola básica, provavelmente não encara estas aulas da mesma forma como as demais disciplinas. Salvo os que têm muitas afinidades com certas áreas ou quem sabe um professor traumatizante. No mais, não me convence.
Do you understand? Peace and love!
Karline Beber Branco – professora