“A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes”. 

Oscar Wilde

Aproximadamente, 52% dos refugiados sírios são crianças e o número pode representar a marca de 2,5 milhões até o final deste ano. Segundo o relatório da UNICEF 3,7 milhões sofreram violência, medo e deslocamentos nos últimos 5 anos. A ONU diz que 80% dos menores de idade foram afetados pelo conflito que começou em 2011.Uma em cada três crianças da Síria nasceu em área de guerra nos últimos anos e desde 2011, 306 mil crianças nasceram como refugiadas em países como Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque.

Para elas, a vida é assim! A única oportunidade de ver o mar: é fugindo.

 

Mas afinal, o que querem as crianças sírias?

 

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Foto que viralizou foi tirada pelo fotografo turco Osman Sagirli em 2014

A criança da imagem é uma menina, Hudea, de 4 anos. A imagem foi tirada no campo de refugiados de Atmeh na Síria, em dezembro de 2014. Hudea viajou ao campo – a cerca de 10 km da fronteira turca – com a mãe e dois irmãos, a 150 km da cidade deles, Hama. O fotógrafo aproximou-se e utilizando uma lente de telefoto fez um retrato que transpareceu não apenas o rosto de Hudea, mas revelou a alma assustada da pequena síria.

Ao ver o homem em sua frente, mirando para o seu rosto, ela prontamente mordeu os lábios e ergueu as mãos em um gesto de “rendição”. Eu usei uma lente de telefoto e ela pensou que fosse uma arma”, disse o fotógrafo.

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À esquerda Aylan e Galip sorridentes, a direita Aylan encontrado pelo Oficial.

Aylan Kurdi é o nome do menino refugiado de 3 anos que morreu afogado. O pai do menino, Abdullah, fugira com a mulher, Rehan, e outro filho, Galip, para tentar chegar ao Canadá, onde vivem parentes da família. Da família, apenas Abdullah sobreviveu à tentativa de travessia de barco entre a Turquia e a Grécia, em que, além dos familiares, morreram pelo menos outras nove pessoas.

 

O prejuízo histórico das crianças sírias é incalculável. Estima-se que apenas a partir da revolta contra o presidente Bashar al-Assad, em março de 2011, morreram mais de 136 mil delas. Sem contabilizar as que ficaram mutiladas ou desapareceram.

Muitas das que sobreviveram foram recrutadas a lutar, outras foram obrigadas a se casar para melhorar a renda da família, outras ainda estão em campos de concentração sem nenhum tipo de assistência humanitária e algumas destas estão sendo massacradas. O “saldo infantil” deste horror, hoje tenta lidar com os traumas criados pela violência e pela perda dos vários familiares.

À esquerda, menina síria retrata mãe que morreu em bombardeio em Homs, na Síria.  E a direita, o menino sírio estampa a violência vivida.
À esquerda, menina síria retrata mãe que morreu em bombardeio em Homs, na Síria.
E a direita, o menino sírio estampa a violência vivida.

Por um tempo, fiquei tentando imaginar o que querem estas mais de 3 milhões de crianças refugiadas. E o primeiro pensamento que me ocorreu foi o de que deveriam desejar se alimentar, frequentar a escola e estar junto aos seus familiares.

E me surpreendo ao ler o que diz Ali Addahar, de 9 anos, “a Síria é mais bonita do que aqui” e Ahmet Cemal, de 12 anos :“a nossa casa era bonita, éramos felizes lá”. Gays Cardak, um menino de 6 anos, embrulhado num pequeno casaco de inverno, no meio do frio, relata: “vou ser médico e engenheiro, vou reconstruir a Síria e levar os soldados para o hospital”.

Enquanto americanos, europeus e os países vizinhos da síria, que estão sendo alvo dos refugiados, se contorcem em proteger as suas fronteiras, as crianças Sírias têm apenas um sonho: voltar para casa!

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Menino sírio retratou como era a vida com sua família antes da guerra.

Saber desse sonho me alertou que, além da urgência em controlar as ações extremistas do estado islâmico e conhecer as reais razões dos interesses dos demais países na Síria, para muito além dos argumentos do comércio internacional, está a premissa básica da sobrevivência, da atenção aos direitos básicos do ser humano, ou seja, primordial deveria ser: preservar o direito destas crianças de continuarem a sua vida em sua terra natal, dando condições para que a vida em família seja possível na Síria, como é, em qualquer outro local.

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Méroli Habitzreuter – escritora e ativista cultural