Dor de cabeça (cefaleia) é uma das queixas mais frequentes na prática clínica. Uma das principais causas é a conhecida Enxaqueca ou Migrânea caracterizada por dores de cabeça de repetição com características particulares.
Embora no imaginário popular a enxaqueca não passe de dores de cabeça frequentes, na realidade é um quadro clínico bastante mais complexo. Muito heterogêneo na variedade de sintomas e na intensidade deles.
A enxaqueca nunca é apenas uma dor de cabeça, lembrando que existem portadores de enxaqueca que apresentam uma série de outros sintomas e nunca tiveram cefaleias.
Outro aspecto a ser lembrado é que a incidência de transtornos afetivos tipo depressão, ansiedade e pânico é muito maior nos portadores de enxaqueca que na população geral.
O inverso também acontece e os portadores de transtorno depressivo tem probabilidade três a quatro vezes maior de sofrerem enxaqueca que a média da população.
A incidência de enxaqueca na população é alta, alguns estudos apontam que acomete ao redor de 15 % das mulheres, 6% dos homens e 5% das crianças. Há diferentes graus de severidade e é frequente que os portadores tenham períodos com muitas crises e outros em que as dores diminuem.
O tratamento medicamentoso é dividido entre o tratamento das crises realizado com vários tipos de medicamentos e o tratamento preventivo, que é indicado para os pacientes com crises de enxaqueca muito frequentes ou incapacitantes. As crises de dor intensas são uma das principais causas de absenteísmo no trabalho.
Embora existam diversas categorias de medicamentos que possam ser utilizadas no tratamento preventivo, há um número significativo de pacientes que não consegue melhorar com o uso deles.
Nos últimos anos apareceram vários medicamentos preventivos contra enxaqueca pertencentes a uma nova categoria, a dos anticorpos monoclonais. Este tipo de medicamento desenvolvido a partir da genética molecular tem se mostrado eficaz para o controle de muitas doenças.
No caso da enxaqueca os anticorpos usados são antagonistas do peptídeo relacionados ao gene da calcitonina. Eles atuam bloqueando uma das vias metabólicas que ativam o aparecimento das crises enxaquecosas.
Já aprovados pelo FDA e Anvisa temos o erenumab, fremanezumab, galcanezumab e eptinezumab. Os três primeiros são de uso subcutâneo e o eptinezumab é de uso endovenoso.
O tratamento consiste em uma aplicação mensal e cada dose tem um custo entre R$ 1,1 mil a R$ 2,9 mil. Isso significa que estes medicamentos estão ao alcance de poucos.
Já aprovado na Europa e Estados Unidos temos o Atogepant que é um inibidor do receptor do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina de uso oral. Ao igual que os medicamentos injetáveis já citados, o atogepant tem um custo alto, supera os R$ 100 por comprimido no mercado norte-americano, mais de R$ 3 mil por mês.
Os estudos clínicos de fase 3 mostram uma diminuição das crises de enxaqueca de 66%, superior portanto ao 50% dos medicamentos preventivos tradicionais.
Como tratamento para a fase aguda da dor tem surgido novas drogas como o Lasmiditan, Rimegepant e Ubrogepant, todas ainda sem aprovação pela Anvisa e já liberadas pelo FDA.
Lasmiditan é um agonista serotoninérgico enquanto os outros dois são antagonistas dos receptores do peptídeo relacionado à calcitonina. Ele controlou as crises de enxaqueca em 40 % dos casos num período de duas horas, enquanto só 20% dos pacientes que usaram placebo melhoraram das crises.
Isso a um custo aproximado de R$ 500 por comprimido!
Os altíssimos custos das novas drogas que aplicam técnicas de genética molecular ou de alta biotecnologia é um tema que os governos e a sociedade como um todo devem enfrentar porque são insustentáveis tanto para o setor da saúde privada quanto para os serviços de saúde pública.
Sem chegar a uma solução nesse sentido uma grande lista de medicamentos estará disponível somente para pessoas de alto poder aquisitivo.