Nunca fui muito ligada em futebol, mas Copa do Mundo é um evento que me fascina. Assisto a todos os jogos que posso, anoto os resultados, leio os comentários dos entendidos para ficar atenta nas principais seleções, os principais atletas e sou torcedora fanática do Brasil.
Essa foi minha primeira experiência de assistir uma copa fora do Brasil e a minha primeira surpresa foi a narração dos jogos. Aqui não tem aquele grito longo de gol, não tem narradores eufóricos quase tendo um ataque cardíaco ao vivo (fazendo a gente enfartar junto). A narração é bastante técnica, contida, meio sem sal.
Aliás isso me fez pensar na papel da narração dos jogos na construção desse amor nacional pelo futebol. Os narradores brasileiros realmente nos contagiam a cada lance, sofrem a cada bola na trave, nos fazem vibrar a cada arrancada de bola em direção ao gol e quando o gol finalmente sai é aquela explosão de felicidade.
Para meu azar, Bélgica e Brasil acabaram por se cruzar nas quartas de final. Eu até simpatizo com o time da Bélgica, acompanho os jogos e torço junto, mas não tem jeito, quando o Brasil entra em campo, meu coração é todo brasileiro.
Então coloquei a camisa amarela, peguei o trem e fui ver o jogo na casa do meu sogro (que não liga pra futebol) porque, como torço mesmo, preferi não ser a pessoa inconveniente torcendo contra na frente de pessoas que gostam de futebol.
Quando o jogo acabou, o Laurent passou pra me buscar para eu fazer parte das comemorações (eu não estava lá muito em clima de comemorar, mas né? Tem que participar). Nossa primeira parada foi uma praça onde os torcedores belgas estavam concentrados para assistir o jogo no telão.
Cheguei lá meio sem graça com a minha camisa verde e amarela, já prevendo que seria hostilizada de alguma forma. Para minha surpresa os belgas, na maior simpatia e humildade, pediram para tirar foto, elogiaram a nossa seleção e, com muito respeito, se mostraram muito honrados de ganhar de uma potência no futebol como o Brasil. Outros dois brasileiros estavam no local e ficamos, os três, de boca aberta com a reação dos belgas.
A seleção belga só esteve uma vez nas semifinais e isso me fez pensar na sorte de termos visto nossa seleção tantas vezes avançar quase até o fim do campeonato. A gente mal para pra pensar que a copa do mundo foi vencida apenas por algumas seleções ao longo da história e que a maioria dos países nunca sentiu sequer o gosto de avançar na competição.
Pelo show de civilidade fora dos campos, mais do que nunca, minha torcida daqui por diante será 100% belga.
Antes de finalizar deixo uma dica para quem gosta de histórias inspiradoras! Tem um texto circulando na Internet que relata a história de Lukaku, o centroavante da Bélgica. Se tiver um tempinho vale a pena conferir, é uma história linda e emocionante.
Mariana Imhof – economista, viajante, escritora