A eterna colega de encontros de literatura de Mário e Oswald de Andrade, Lygia Fagundes Telles, em seus plenos e criativos 95 anos, acaba de receber seu exemplar de Os contos.  O privilégio da publicação foi da Companhia das Letras, e reúne pela primeira vez os principais livros e outras tantas histórias esparsas desta que é uma das maiores escritoras da literatura brasileira contemporânea. “Dos textos concebidos na juventude até sua produção mais madura, vemos aqui a prosa extremamente habilidosa de Lygia, em narrativas curtas impecáveis e plenas de sensibilidades e sutilezas”.

Esta edição especial em capa dura é a mais completa antologia de contos da autora, incluindo contos esparsos e os livros Antes do baile verde (1970), Seminário dos ratos (1977), A estrutura da bolha de sabão (1991), A noite escura e mais eu (1995), Invenção e memória (2000) e Um coração ardente (2012), além de posfácio de Walnice Nogueira Galvão.

Como se não bastassem as obras publicadas, a vida da autora é, com certeza, um de seus melhores contos. Ela que nasceu no ano de 1923, estreou oficialmente na literatura em 1944, com o volume de contos Praia Viva. Dez anos após, escreve o romance Ciranda de Pedra, posteriormente adaptada para uma novela na TV Globo. O roteiro para o filme Capitu (1967), também é de sua autoria, baseado na obra Dom Casmurro de Machado de Assis.

A década de 70 foi o ano da consagração de Lygia. O livro de contos Antes do Baile Verde (1970) recebeu o Prêmio Internacional de Escritoras, na França. O livro As Meninas (1973 se tornaria um dos seus mais importantes romances, recebendo o Prêmio Jabuti, em 1974, e adaptado ao cinema em 1975, dirigido por Emiliano Ribeiro. A obra traça um paralelo entre a vida de três pessoas que agitaram a juventude em um período conturbado da história do Brasil. Seminário dos Ratos (1977) recebeu o Prêmio PEN Clube do Brasil. “A Disciplina do Amor” (1980) recebeu o Prêmio Jabuti e o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte.

Lygia no auge da sua juventude criativa, permanece disposta a nos provocar, dando chacoalhadas na mesmice de nossas vidas, nossas preguiças, descasos e comodismos. Sim, Lygia com certeza, é o tipo de mulher, feminina e vibrante que pode ensinar algo a todos esses movimentos feministas vazios que circulam por aí. E porque não, a todos nós¿ O Brasil que eu quero é aquele em que cada mulher tenha em si, uma colher de chá de Lygia. Leiamos ela!

Um brinde a Lygia!

A terceira mulher eleita na Academia Brasileira de Letras, a única mulher brasileira indicada ao Nobel de Literatura.   Uma das poucas mulheres a persistir incansavelmente, nesse eterno processo de “tornar-se mulher”.


Méroli Habitzreuter
– escritora, pintora e ativista cultural