O que os analistas dizem sobre os resultados das eleições em Brusque e região

Grande número de candidatos, falta de estratégia e foco em Bolsonaro estão entre os motivos

O que os analistas dizem sobre os resultados das eleições em Brusque e região

Grande número de candidatos, falta de estratégia e foco em Bolsonaro estão entre os motivos

Depois de décadas, Brusque não terá representante na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). O município também não conseguiu emplacar ninguém na Câmara dos Deputados.

Analistas consultados por O Município apontam quais fatores contribuíram para o fracasso eleitoral dos políticos de Brusque e Guabiruba. O excesso de candidaturas, dez para estadual e sete para federal, é o principal deles, dizem.

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Ivo Barni
Comentarista político

“Um está feliz com a derrota do outro”

O fator principal foi o excessivo número de candidatos a deputado estadual. Não conseguiram dialogar antes das eleições. No lançamento das candidaturas, já era previsto que muitos teriam dificuldades de ter seu nome estadualizado ou regionalizado.

Havia uma expectativa que não era fundamentada num alicerce que demonstrasse real capacidade de obtenção de votos. Foram estimulados pela oportunidade que surgiu, porque os partidos estavam querendo lançar mais candidatos para se consolidar.

Há também um grande número de partidos e todos querem consolidar a sua existência. Isso é prejudicial, não em termos de democracia, mas em representatividade regional.

Como o contingente eleitoral é pequeno para esses candidatos, era evidente que poucos obteriam sucesso, com exceção do deputado Serafim Venzon. Ele já vinha com votações suficientes para se eleger nas últimas eleições.

Mas a onda da mudança e o desejo de renovação fez com que ele também fosse prejudicado. Talvez, ele não percebeu que teria que estar mais bem amparado com apoios, não aquele simples trabalho político de formiguinha dele, que é excelente.

Mas o próprio excessivo número de candidatos frustrou Venzon. Foram muitos candidatos para poucos votos. O Venzon ficou prejudicado porque, evidentemente, a sua votação individual seria reduzida.

Quanto aos candidatos a deputado federal, houve uma falha porque, estranhamente, um candidato a federal de Brusque não trouxe um estadual local como seu parceiro, e vice-versa.

Essa falta de sintonia, até mesmo dentro do mesmo partido, se percebeu. Era cada um por si, não se trabalhou em conjunto. Assim, hoje todos comemoram porque um está feliz com a derrota do outro. Está evidente a felicidade de todos porque cada um sentiu que conseguiu atrapalhar o desempenho do outro.

As exceções foram o Paulinho Sestrem, que não foi surpresa, porque foi o que melhor trabalhou a sua candidatura. E a Sabrina Avozani teve apoio fora de Brusque. O partido contribuiu para que essas novas candidaturas tivessem melhor desempenho.

Os antigos políticos ficaram prejudicados, porque o eleitor gosta de votar no novo. A onda Bolsonaro beneficiou o candidato Osmar Vicentini. O ex-vereador Guilherme Marchewsky, com pouca estrutura, não só surpreendeu como superou a expectativa das pessoas que acompanham a política local. Há de se reconhecer o excelente desempenho dele.

O eleitor está ávido pela mudança para que o Brasil volte a trilhar a normalidade. Para contribuir para isso, foi votar. A onda de mudança ajudou na baixa abstenção.

 



Rolf Kaestner
Comentarista político

“Se tivéssemos apenas um candidato, não acreditaria na eleição dele”

Primeiro, foi uma falta de visibilidade dos nossos candidatos na propaganda política. Em segundo lugar, o excesso de candidatos e depois a “bolsonarização”.

Era uma coisa prevista para quem estava acompanhando a situação. Essa onda estava avançando e as pessoas estavam votando no 17 em todos os cargos, mesmo desconhecendo os candidatos. Isso aconteceu.

O fato de Brusque não eleger ninguém foi a falta de visibilidade, pouca gente sabia quem eram os candidatos, e muitos menos os números. Por isso houve tantos votos em branco.

As pessoas estavam mais interessadas em votar para presidente da República e esqueceram de olhar para o nosso Legislativo. Um dos poderes mais importantes é o Legislativo, e pouca gente olha para isso. Por isso Brusque ficou de fora. 

Se tivéssemos concentrado os votos em quem pudesse se eleger, que todo mundo sabia quem eram, haveria chance. Mas houve falta de interesse no Legislativo, o que fez as pessoas desconhecerem, pulverizarem e irem na onda.

O caso do Venzon surpreendeu de certa forma. Achei que pudesse se reeleger, pelo tempo que tem na Alesc e pelo prestígio na cidade.

Ele teve uma votação pífia. Também o culpo pela visibilidade, pois, ele, experiente na política, tinha que estar mais visível. A campanha no Legislativo foi pífia. Ele podia se sobressair, se tivesse aparecido mais.

O Paulo Eccel, com toda a exposição de mídia que teve com o que lhe aconteceu, se colocando como injustiçado, deveria ter explodido nesta cidade. Mas o fato de ele insistir em ficar no PT não o levou a lugar nenhum, prejudicando talvez até a carreira política dele.

No âmbito federal, o quociente eleitoral é muito alto e não tínhamos nenhum candidato com possibilidade, mesmo com a soma de legendas. Se tivéssemos apenas um candidato, não acreditaria na eleição dele.

São candidatos desconhecidos do nosso público, e muito mais na nossa região. Tem que ser reconhecido regionalmente pelo menos. O voto distrital misto poderia dar mais visibilidade ao nosso candidato.

O Sestrem fez uma votação que surpreendeu, igual a do Moacir da Acapra em 2014. A Sabrina também surpreendeu. O próprio partido Novo teve boa votação em Brusque, o que mostra que o nosso eleitor é culto.

No rastro veio o doutor Lima, com o PSDB, que está liquidado em nossa cidade, salvo o Venzon, que também não fez muita coisa. É só olhar a votação do Alckmin e do Paulo Bauer. O Doutor Lima não carregaria votos por causa do PSDB.

Sobre a taxa de abstenção, essa onda de bolsonarização, de termos que mudar o Brasil e afastar o risco de ter o PT, levou o nosso eleitor a votar. Também por isso tivemos tantos votos no Bolsonaro, o medo da esquerda levou as pessoas a votar.

Não se esperava, mas com as últimas pesquisando apontando polarização, as pessoas pensaram que era seu dever votar.



Carlos Eduardo Sell
Doutor em Sociologia Política pela UFSC

“O eleitor brusquense estava mais preocupado em expressar apoio a Bolsonaro”

O primeiro fator foi um erro de estratégia, não dos candidatos individualmente, mas dos partidos e das lideranças comunitárias. Refiro-me ao excessivo número de candidatos a estadual e federal, o que levou um a atrapalhar o outro.

É um defeito no planejamento coletivo. Cada partido e candidato seguiu uma estratégia individual, mas a coletiva não aconteceu. Isso contribuiu para que no final todos saíssem perdendo.

Mas eu também colocaria alguns fatores aleatórios, imprevisíveis, contingentes, que não poderiam ter sido contabilizados.

Foi a influência do bolsonarismo. O eleitor brusquense estava muito menos preocupado em tentar fazer um representante da cidade ou da região estivesse em Brasília ou Florianópolis, e mais preocupado em expressar um voto no movimento de apoio a Bolsonaro. O eleitor não estava preocupado com a representação local.

Outro fator que pode ter influenciado foi a restrição de recursos por causa da mudança na legislação. O que não dá para calcular muito, que atrapalhou principalmente o Venzon, que tinha campanha organizada e com bom aporte de recursos, é que quanto mais poderosa, mais forte uma coligação ou partido, mais difícil acaba sendo a eleição de um deputado.

O Venzon pertencia a uma coligação que exigia um número muito grande votos, acabou ficando difícil para ele. É mais vantajoso para um candidato, às vezes, fazer parte de um partido ou coligação menor.

No caso do Paulo Eccel,  o antipetismo e a onda Bolsonaro o prejudicaram. Por isso ele chegou a um número limitado de votos.

Diria que esta eleição tem ganhadores e perdedores, mas o grande perdedor é o cidadão brusquense. Todos saímos perdendo.

A política não deveria funcionar com o deputado em Florianópolis para angariar recursos. O deputado deveria ter sua atuação mais para a formulação de leis, mas na prática não é o que acontece.

É bom ter um deputado em Florianópolis ou Brasília para que ele faça a ligação com o município. O eleitor, o cidadão brusquense, sai perdendo. Aquele político ou candidato em particular deve estar contente, mas eu diria que a cidade deve lamentar.

No final das contas, apesar do desânimo do eleitorado com a classe política em geral, ele acabou capturado pelo Bolsonaro como salvador da pátria.

O bolsonarismo, como mais um mito de salvação da pátria, capturou a mente do brusquense, que depositou ali toda a sua esperança na capacidade deste candidato mudar a situação do Brasil.

É um voto que tem duplo aspecto, é no Bolsonaro, mas tem antipetismo. Tem esperança e medo. Medo do PT, e esperança de que ele possa representar outra forma de fazer política.

 



Reinaldo Cordeiro
Professor e escritor membro da Academia de Letras do Brasil – Seccional Brusque

“Cada um pensou em si e o resultado foi negativo para todos”

Temos um colégio eleitoral limitado, com cerca de 80 mil votos, e tínhamos um expressivo número de candidatos à Assembleia Legislativa. Os partidos precisavam alcançar o coeficiente e não conseguiram.

Atribuo isso à falta de capacidade de negociação dos diretórios municipais dos partidos desses candidatos. Porque quem indica os candidatos são os diretórios.

Me parece que essas lideranças não fizeram reunião para discutir o lançamento dessas candidaturas. Cada um pensou em si e o resultado foi negativo para todos.

Desde 1940 temos deputados na Assembleia. Tivemos momentos de três, com domicílio em Brusque, exercendo mandato na Assembleia, na década de 1990.

A perda de representação na assembleia é dolorida, tem aspectos negativos. O deputado lá tem poder de pressão, de conversar e de viabilizar obras e serviços que exigem moedas pesadas, que o erário municipal não tem.

Estamos no processo conclusivo da duplicação da Antônio Heil, é moeda pesada que o erário municipal não tem. Além disso, tem a barragem de Botuverá, que nem Brusque, Botuverá ou Vidal Ramos tem dinheiro para fazer.

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Outro caso é o volume de votos dados a candidatos de fora, o que não é pecado, é grande. Poderiam ter sido colocados nos candidatos daqui. Alguns estiveram bem próximos, o Venzon e o Paulo, também. Então, atribuo a isso.

E essa onda Bolsonaro foi a futebolização das eleições. As torcidas, em que uma derrota a outra, pouco se importando se com essa derrota vão perder também.

Essa onda também atingiu o governo do estado. O governador é importante, está próximo das pessoas.

Me assustou muito o fenômeno do Moisés. A mim ficou claro que ele é um caroneiro. O líder político você conhece, mas o Moisés, que deve ser virtuoso, apareceu aqui.

Isso é perigoso porque uma pessoa eleita assim fica carente da legitimidade. Quando voto em quem conheço, tenho confiança.

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