OPINIÃO – Brasil não tem partidos demais e quantidade atual garante democracia forte
Por Thiago Facchini Visconti, jornalista
Às vezes, nas rodas de conversa sobre política, alguém argumenta que o Brasil tem muitos partidos políticos e que este número deveria ser reduzido. Há até quem defenda que as siglas não deveriam existir. No entanto, o multipartidarismo é fundamental para a democracia e para o funcionamento do sistema político.
Existem três formas de sistemas partidários: unipartidário, bipartidário e multipartidário. Caso fossemos colocar em uma “escala de democracia”, o unipartidarismo estaria em uma ponta, a “menos democrática”, e o multipartidarismo estaria em outra ponta, a “mais democrática”.
O totalitarismo norte-coreano é um exemplo de sistema unipartidário, em que existe somente uma única sigla no país. O Brasil viveu o bipartidarismo no período da Ditadura Militar, quando existiam somente Arena e MDB, com uma força ligeiramente maior da Arena, partido pró-ditadura, sobre os emedebistas.
O multipartidarismo, por outro lado, faz com que as minorias tenham voz. Os partidos representam interesses de classes. São conjuntos de pessoas unidas por meio de uma ideia. Na hora do voto, é mais fácil o eleitor escolher o candidato que mais se identifica a partir das bandeiras que o partido defende.
A comunicação entre deputados e suas bases é mais fácil por meio dos partidos. Na prática, um deputado envia emendas (recursos financeiros) para as cidades após intermediações de vereadores e/ou prefeitos que são do mesmo partido do deputado.
A convivência interna na agremiação faz com que os contatos sejam mais diretos entre políticos que representam municípios (vereadores) e políticos que representam estados e o país (deputados estaduais e federais).
O Brasil tem, atualmente, 29 partidos. Caso o sistema político nacional se limitasse a um número menor, de três partidos, por exemplo, sendo um de direita, um de esquerda e um de centro, interesses de minorias ficariam ofuscados.
É necessário levar em consideração que existem partidos que atuam fortemente em prol do meio-ambiente. Outros, falam em defesa de uma economia com menor influência do Estado. Há também as siglas que defendem de forma enérgica os direitos dos trabalhadores. Por aí vai. Em uma democracia, é fundamental dar voz a vários lados.
Além disso, a existência dos partidos evita a chamada “paralisia decisória”. Caso as siglas não existissem, poderiam ser eleitas pessoas com opiniões tão diferentes que não fosse possível dar andamento ao país.
Por outro lado, a existência de poucos partidos, ao invés de nenhum, pode, também, fazer com que só um determinado grupo seja representado. O sistema eleitoral precisa respeitar a vontade popular, mas, da mesma maneira, precisa fazer com que haja uma lógica para que os eleitos tenham capacidade de governar.
A quantidade atual de legendas no Brasil, de 29 partidos, parece ser adequada para composição de um sistema político em que exista uma discussão de ideias entre pessoas que não pensam igual e nem de forma totalmente diferente, resultando em uma harmonia.
Na política prática, porém, existem políticos que estão em partidos sem necessariamente compartilharem dos mesmos ideais. O ex-deputado estadual catarinense Bruno Souza, hoje do PL, é um exemplo disso. Enquanto vereador de Florianópolis, Bruno esteve filiado ao PSB, um partido de esquerda, mas sem que ele fosse de esquerda.
É fato que existem formas de “burlar” a lógica do funcionamento dos partidos, mas, se for analisado o Brasil como todo, é possível concluir que são mínimos os casos de filiações partidárias em que determinado político e seu partido possuem visões completamente distintas. O multipartidarismo é sinônimo de democracia forte.