Em 1984, três hospitais funcionavam em Brusque: Hospital Evangélico, hoje Hospital Imigrantes; Hospital Dom Joaquim e Hospital Azambuja. 

A cozinheira do Azambuja, Etelvina Catarina Beller, 67 anos, conhecida como Telva, recorda de ter passado o domingo, 5, um dia antes da enchente, com pai no Hospital Santa Isabel, em Blumenau. Ele tinha câncer.

Na noite do mesmo dia, ela voltou para Brusque. Como mora no bairro Águas Claras, não foi afetada com a inundação. Na segunda-feira de manhã, 6, dirigiu-se ao trabalho.

“Naquele dia, quem estava aqui e não tinha como voltar, ficava aqui no hospital para dormir. Muita tristeza, muita chuva”, conta.

Dona Telva recorda da falta de comunicação que a catástrofe causou, pois os telefones não funcionavam. Durante o trabalho, Etelvina pensava na enchente, mas não sabia qual era a real situação na cidade.

Mais tarde, descobriu que a família dela, de Nova Trento, foi atingida. Segundo ela, a família precisava atravessar o rio de canoa para buscar alimentos, pois a ponte que dava acesso à residência caiu com a inundação.

Além disso, na quinta-feira seguinte, 9, após a água abaixar, Telva recebeu a informação de que o pai dela havia falecido na terça-feira anterior, 7.

O supervisor de compras do Azambuja, Márcio Rugitzky, 65, trabalha há 45 anos no hospital. A família de Márcio estava em casa, porém, com a falta de comunicação, ele não sabia se a esposa e as duas filhas estavam bem.

Foto: Luiz Antonello

Felizmente, neste caso, Rugitzky descobriu que a residência não foi atingida.

Transporte

Segundo o médico Adail Japy Lira, 76, que atuava no pronto-socorro do Azambuja, o movimento normal do hospital era menor naquela época. “Eu atendia por mês o que hoje se atende por dia”, compara.

Enquanto a cidade sofria com a grande inundação, os funcionários do hospital se dividam entre exercer a função e também lidar com a catástrofe.

Dr. Lira, que tinha 41 anos de idade, começou o plantão na noite do domingo. “Ninguém previa que ia chover tanto. Segunda-feira não consegui sair do plantão e, quem vinha me substituir, não conseguia chegar”, lembra.

Foto: Luiz Antonello

De acordo com Lira, um vizinho conseguiu buscá-lo de jipe no hospital. Então, ele conseguiu ir para casa, mas já tinha entrado água. “Só deu tempo de levantar as coisas e sair correndo”, conta.

Segundo ele, o Azambuja tinha acesso pelo cemitério, via Jardim Maluche. “Experiência horrível, no fim falta tudo”, conta.

A semana não foi fácil. Na terça-feira, pela manhã, voltou ao hospital e, à noite, foi para casa avaliar os estragos. Ficou quase uma semana dormindo no hospital, até conseguir outro lugar para ficar.

Pós-enchente

De acordo com Lira, o plantão do hospital foi tranquilo pois ninguém conseguia chegar lá. “Depois que a água baixou, veio muita gente com traumas, principalmente psicológicos”, lembra.

“A gente tentava acalmar as pessoas, mas numa situação dessas, um médico não tinha o que fazer”, conta.

Depois que a água abaixou, começou a aparecer casos de infecção no hospital. “A enchente contaminou tudo, até a água da rede”, conta.

Até hoje, a palavra ‘enchente’ causa arrepios para Lira. O médico ainda mora na mesma residência no Jardim Maluche, junto com a esposa. “Sair de casa, voltar e ver que não tinha mais nada foi muito difícil para todos”, diz.