Delação premiada foi uma das coisas que você mais ouviu nos últimos tempos. Você é um ladrão, mas como é dedo duro, você é premiado, soa estranho, chega a engasgar, dá nojo, mas graças a essa ferramenta que a lei disponibilizou os “dedos-duros santinhos do pau oco” revelaram para nós todos, o esgoto que se encontra por baixo do nosso país. Pois é, mas para quem acha que essa parada de delação é só coisa de corrupto, ladrão sem vergonha e político safado, nada disso, não se engane! A delação premiada é um artifício que se aprende desde que você começa a sua vida pública, ou seja, lá quando você entra na escola.

Meus dedinhos, meus dedinhos

Sim, na escola! Até porque é na escola que você já identifica quem vai ser o verdadeiro dedo duro para sempre. É onde fica registrado no DNA do caboclo, o perfil de quem ele vai ser quando crescer. É na escola que se molda o caráter da pessoa para o futuro. Vai dizer que na sua sala não tinha sempre aquele ou aquela que contava tudo para professora? Aquele ou aquela que você sempre tinha que esconder o que a turma do fundão estava aprontando senão caía a casa na hora. Aquele ou aquela que tinha o dedo podre e quando a professora perguntava quem foi, ele já vinha igual o Padre Quevedo (in memorian) apontando aquele dedão pra você: “foi esse ali ó, “fêssora”!”.

Moleza

E na escola todo mundo foi delator um dia. Hoje os delatores são pressionados pelos juízes, promotores e delegados da polícia federal. Isso daí é fichinha, galego! No tempo de escola a gente era pressionado pelos professores: “Conta já quem foi que fez isso, senão ligo pra tua mãe agora”. E ai de quem não contasse… era pau! Hoje esses delatores ganham uma tornozeleira eletrônica pra ficar dentro de casa e deu, não acontece mais nada. No nosso tempo era surra de varinha de pé de minerva quando chegava em casa e mais um mês sem sair do cercado nem pra jogar quilica. Não tinha essa moleza de morar num flat na Barra da Tijuca, não! “Male-male” liberavam um “Pica-Pau” pra gente ver. Pior que hoje até o “Pica Pau” está proibido por causa dessa nutellagem dos infernos que assola o mundo!

Câmara dos Deputados

Mas além desse papo todo de delação, na escola haviam também os partidos políticos. Como assim, Lauritx! Claro, a sala era dividida em partidos, como o Congresso Nacional. Tinha o Partido dos CDFs que eram os meninos e meninas que ficavam nas primeiras carteiras, alguns porque eram inteligentes mesmo, os famosos dez com estrelinha, outros porque eram muito bem comportados e outros porque usavam aqueles óculos fundo de garrafa. Esses eram os queridinhos dos professores. Se fossem ricos então, Nossa Senhora… Tinha também o Partido do Fundão que era aquela turma que ficava nas últimas carteiras só pensando na hora que ia a bater o sinal do recreio e depois o sinal pra ir embora pra casa. Entre a entrada na escola e esses dois sinais era força de fazer bagunça, sem limites. Esses eram os odiados pelos professores. Tinha o Partido das Lindonas que eram as meninas mais bonitas da sala, que essa turma do Fundão vivia enchendo o saco e elas não davam muita bola, na maioria das vezes. E tinha o Partido do Olho Azul em Gente Feia que era aquela galera que se viesse pra aula ou não viesse dava tudo no mesmo porque você não notava a presença deles ali na sala. Ou eles estavam meio que dormindo, ou não abriam a boca pra nada, ou faltavam muito, enfim, era aquela turma que não rodava, mas não também não passava direto, era um meio termo assim.

Troca de favores e coligações

Todos esses partidos trocavam favores entre si. Geralmente nessas horas de troca de favores os mais assediados eram os integrantes do Partido dos CDFs. Sim, porque eles estudavam, sabiam toda a matéria de cor e salteado e geralmente eram, além de inteligentes, “gente boa” e passavam aquela “cola” pra turma nas provas e atividades em geral. Os que não eram gente boa do Partido dos CDFs eram aqueles que sofriam a zoação interminável da turma o ano todo. Hoje dizem que isso é conhecido como bullying. Mas era assim que funcionava! E quando a zoação era muito grande, os CDFs recorriam à turma do Fundão para ajudá-los, já que eram os mais trogloditas da sala, digamos assim. E a turma do Fundão, por sua vez, às vezes dava uma coligada com a turma das Lindonas, se é que vocês me entendem. E elas, as Lindonas, se davam muito bem com todos os demais partidos, sabe lá Deus por que! Já a turma do Olho Azul em Gente Feia só era assediada pelo resto da turma quando alguém fazia uma festinha de aniversário, ou quando trazia uma barra de chocolate, ou quando ganhava um videogame novo que ninguém tinha, enfim, a sala era um jogo de interesses sem fim, sempre.

Toma lá, dá cá

Além da delação e dos partidos, a propina era outra coisa que corria solta na sala de aula. Era uma bananada com laranjinha para ajudar no trabalho de História, um saco de pipoca Bilu pra passar cola na prova de Ensino Religioso, um pacote de bala Soft pra passar um recado pra uma menina da turma das Lindonas, era uma caixa de chocolate Nestlé especialidades (quando a caixa era boa ainda!) pra traduzir a prova de inglês, até dar um bloco de papel de carta pra menina trocar o papelzinho pra poder dançar com a amiga dela na Festa Junina da escola acontecia, enfim, a propina era forte já nessa época também, em todos os sentidos!

Eleição

Então é isso, se você se assusta com isso tudo que está acontecendo no país hoje, é porque você não viveu direito o tempo de escola ou então é porque você foi da turma do Olho Azul em Gente Feia. Sim, porque se você fez parte dessas outras turmas da sala você só sobreviveu porque fez política, de um jeito ou de outro. Ah, também faltou falar dos acertos que eram feitos entre os “partidos” na hora da eleição do Líder de Classe. Pensa na confusão, mas infelizmente o horário não permite contar! Essa fica pra próxima delação!

 

 

Puxando o Saco

O “Puxando Saco” dessa semana vai pros aniversariantes minha comadre Ana Cláudia dos Santos, Andrea Zambonetti Caetano, Ricardo Fuzon, Aguinaldo Kormann (Agui), Césinha Martinenghi, Murilo Fischer, Alan Fischer, Ademir Brehm, Gilmar Vilamoski, Jackson Everton Wandrey (Moita), Charles Suave, Janes Dirschnabel, Duda Hoffmann, Dinho Imhof, Jaison Falcão, Fabio Gripa, Jordan Quindota, Jéferson Oliveira e Carina Machado. O “Puxando o Saco” especial vai para minha mãe Sueli Faria Lauritzen que está de aniversário na segunda-feira, juntamente com o meu afilhado Bernardo Cim da Silva. Fiquem todos com Deus e bom final de semana!

Sabedoria Butecular

Estou fazendo umas mudanças na minha vida e se eu não der mais notícias é porque você é uma delas
– Rita Lee