Cada vez que vejo algo sobre Madonna ou sobre Xuxa, lembro imediatamente que meu “radar de sucesso” é bem defeituoso: quando cada uma delas apareceu, eu vaticinei que ambas não iam passar dos dois anos de visibilidade. Errei feio.

Tive que pensar mais uma vez nessa minha falha cultural pop ao receber praticamente um ultimato de um coleguinha de página. Não uma beltrana, mas um teacher que frequentou as páginas do Like. Lembra do Like?

O professor de inglês, entusiasta do Halloween e fã de Madonna (e de Michael Jackson) Braian Felipe Hochsprung me mandou uma mensagem que diz: “sei que não curtes muito, mas você vai postar algo na sua coluna essa semana devido aos 60 anos da Madonna? Estou vendo tantos jornais e revistas ao redor do mundo falando sobre e até o The Sun comentou que Prince, Michael Jackson, Whitney morreram, só sobrou ela de grande lenda da música pop, claro, sem citar Cher, mas me refiro àquela galera mais anos 80 e 90 e ela continua com recordes e lucros altos, tu vai escrever algo sobre?”.

Eu não ia, Braian, mas agora não tenho como deixar passar. É verdade, nunca gostei muito do trabalho de Madonna. Não é o estilo que me pegue por dentro e me faça ter vontade de ouvir as músicas, ver os clipes e aprender as letras. Não sou fã de divas pop. Mas, de todas elas, Madonna não é só a que sobrevive no cruel mundo do pop. É a que sobrevive melhor. Tanto que já fui obrigada a trazer parte daquele discurso que ela fez no evento Women in Music, da Billboard, no final de 2016, aqui para as nossas páginas beltranas. Aquele em que ela disse que “envelhecer é um pecado. Você vai ser criticada e humilhada e definitivamente não tocará nas rádios”.

Não é fácil, nada fácil, manter seu lugar em um mundo que cultua a juventude e que despreza os que envelhecem. Os 60 anos de Madonna, que ela comemora amanhã, reforçam uma qualidade que talvez nem se esperasse dela: a dignidade que leva à manutenção da relevância. Porque não basta que ela seja reverenciada pelas divas que vieram depois (quase todas apenas derivativas da fórmula que Madonna consolidou). Ela tem que mostrar, ano após ano, que ainda é capaz de gerar notícias, atrair público e escapar das piadinhas sobre idade. O universo pop é cruel.

Voltemos ao Braian: “acho que o pessoal que lê o jornal acharia interessante até pensar sobre isso e lembrar que existem artistas no pop que mantém uma certa qualidade com o decorrer dos anos. Ela não revolucionou mais na música nessa década, mas revoluciona demais em turnês e se mantém entre as artistas mais vendidas”.

É isso. Mesmo não sendo fã, torço para que o novo disco de Madonna (aí acima tem um pedacinho do primeiro single), que será lançado ainda este ano, exploda e mostre que, aos 60 anos, ela é capaz de, a partir apenas de sua inteligência, manter a admiração de um mundo que é, por natureza própria, hostil a uma mulher que deixa de ser jovem. Topo até ouvir as músicas por aí, sem reclamar.


Claudia Bia
– jornalista, influenciável e fã de rock’n’roll