As paralisações dos caminhoneiros que abalaram o país em 2018 tiveram reflexos diretos em Brusque e região, e O Município não ficou imune às consequências daquela crise. Queda nas receitas com publicidade foram um efeito direto, causado pelas dificuldades que viviam parceiros comerciais na obtenção de insumos, na entrega das vendas e na logística, além da constante falta de combustível nos postos. Em 30 e 31 de maio, após diversos esforços, não foi possível evitar que a edição impressa não fosse veiculada.

A manchete da edição de 25 de maio | Foto: João Vítor Roberge/Arquivo O Município

O impacto na distribuição da edição impressa poderia ter sido ainda maior, caso os esforços dos setores administrativo e comercial não tivessem sido tão grandes. O gerente comercial de O Município, Everton Caetano, lembra que precisou ir a gráfica Soller, no Morro da Fumaça, no Sul do estado, acompanhado do diretor geral, Claudio José Schlindwein.

Em 28 de maio, capa especial para um caos sem previsões para acabar

“Os motoboys usam gasolina, e a gente tinha dificuldade até nisso para entregarmos o jornal nas lojas e nas casas. Pedi para não gastar muita gasolina. Em um momento, conseguimos uma bombona com gasolina, para ser usada conforme a demanda”, comenta.

Com as rodovias repletas de barreiras compostas pelos caminhoneiros, as dificuldades foram imensas para que quase 5 mil exemplares, de segunda a sexta-feira, saíssem de Morro da Fumaça para chegar a Brusque, cruzando Santa Catarina praticamente de norte a sul.

Em 24 de maio, o destaque era a disputa por combustível | Foto: Barbara Sales/Arquivo O Município

Em uma primeira tentativa, o transporte da gráfica foi apedrejado. No dia seguinte, o dono da gráfica tentou levar os jornais com o próprio carro. Em uma das barreiras, recebeu ordem para parar. Sem obedecer, o veículo também foi alvo dos grevistas. No terceiro dia, a empresa se recusou a trazer os exemplares para Brusque, tamanho o risco não só ao bem material, mas à integridade física de quem tentava cumprir a tarefa. Coube a O Município fazer uma busca, em 24 de maio.

“O Claudio e eu fomos em dois carros para lá. Saímos por volta das 17h de Brusque, e partimos, em mais de 250 km. Chegamos lá por volta das 22h, 22h30. Era um cenário incrível. Pouquíssimos carros da rua, alguns pontos com barreiras. Teve um ponto desses, acho que entre São José e Palhoça, com um viaduto bloqueado com pneus em chamas, e o desvio era um corredor de caminhões e tratores. Não tinha como voltar. No fim do caminho, dois carros fechavam o trajeto. Dava pra sentir o calor do fogo. Parecia filme.”

Em 23 de maio, o preço da gasolina ultrapassava os R$ 4 pela primeira vez

Na ida, Schlindwein e Caetano foram parados, mas como não possuíam carga alguma, seguiram viagem sem problemas. Para voltar, foi necessário abastecer os veículos com gasolina que havia sido levada junto em galões. Afinal, não havia postos abertos. A impressão dos jornais terminou por volta da meia-noite.

“Chegamos a comer alguma coisa antes, e então voltamos. Aquele mesmo ponto da ida continuava com uma barreira. O Claudio foi na frente, e eu fui atrás. Na frente, tinham dois caras. Um pediu para pararmos, e o outro pediu pra tocar direto. Fomos no embalo e passamos. Os jornais estavam todos dentro dos carro, com os tapetes dos carros cobrindo e disfarçar um pouco mais. Se você fosse flagrado em transporte, eles te deteriam ali. Loucura.”

Capa da edição de 29 de maio tinha anúncio da suspensão do jornal impresso

A operação foi um sucesso, com o jornal sendo entregue normalmente naquele 25 de maio. Mas no outro dia não havia mais gasolina disponível. Um taxista, utilizando gás natural veicular, fez a busca nos dois dias seguintes. “No sétimo dia, não foi mais possível. E foi aí que o jornal não foi impresso. Com toda a dificuldade, com todas as restrições, nós mantivemos o compromisso ao máximo com os anunciantes para entregar o jornal”, lembra Everton.

A edição de 29 de maio foi a última daquele mês, com um aviso na capa sobre a suspensão do jornal impresso. O Município foi ser distribuído novamente em 1º de junho, uma sexta-feira, com o fornecimento de combustível voltando à normalidade e as paralisações perdendo força. Era a deixa para que as atividades e a distribuição voltassem ao normal, após dias de indefinições e imprevistos.

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