Santa Catarina recebeu imigrantes de vários países, e os poloneses, assim como outros europeus, contribuíram significativamente para o desenvolvimento econômico e cultural do estado, embora não com a mesma expressão que tiveram no Paraná. Mas o que pouca gente sabe é que, fora os grupos de poloneses que se fixaram mais tarde em Caminho das Areias (Indaial), em Guarani-Açu (Massaranduba), uma grande leva de imigrantes da Polônia veio, em 1869, para a então Colônia Itajaí (Brusque).
Eram 16 famílias que ocuparam os lotes coloniais abandonados pelos imigrantes irlandeses, anteriormente ali localizados.
A colônia polaca em Brusque
Naquela época, era vigário de Gaspar o Pe. Antônio Zielinski, polonês, que em 1867 substituíra o Pe. Alberto Gattone, quando este foi transferido para Brusque. O Pe. Zielinski concebia ideias de colonizador e pretendia trazer para o Brasil famílias de patrícios seus que viviam em situação pouco invejável, sob as bandeiras da Rússia, da Prússia e da Áustria (entre as quais havia sido repartida a Polônia). E aconteceu que Sebastião Saporski – que se tornaria, um pouco mais tarde, o pioneiro da colonização polaca no Paraná -, veio para Blumenau onde atuou como professor alguns meses. Saporski contatou o Pe. Zielinski e, da troca de ideias sobre colonização, decidiram requerer ao Ministro da Agricultura uma área de terras que se obrigariam a povoar com colonos poloneses, muitos dos quais já estavam esperando no Rio de Janeiro. Receberam resposta favorável e foi-lhes perguntado onde desejariam receber as terras que pretendiam colonizar. Pensavam em Santa Catarina. Mas, aí surgiram as dificuldades. Quase todo o vasto território da Bacia do Itajaí já fora destinado à colônia do Dr. Blumenau, e a maior parte das terras litorâneas já havia sido atribuída às colônias oficiais ou concedidas à particulares. Pensavam, então, no Paraná. Mas, enquanto os dois se empenhavam nessas providências, chega do Rio o primeiro grupo de poloneses. As autoridades do Departamento de Imigração, não tendo outra alternativa, encaminharam o grupo para a ex-colônia Príncipe D. Pedro.
Colônia Príncipe D. Pedro
Foi criada em janeiro de 1866, em terras que o governo adquirira de Francisco Sallentien, um dos integrantes do grupo de 17 imigrantes, fundadores de Blumenau. Sallentien, já em 1852, transferira-se para as margens do Itajaí-Mirim, para adiante do Ribeirão das Águas Claras, onde montou uma serraria. Precisando o governo de mais terras para ampliar a colônia Príncipe D. Pedro, adquiriu a gleba de Sallentien e outras próximas, instalando, aí, 98 imigrantes aliciados na América do Norte pela Companhia de Navegação “United States and Brazil Steamship”. Esses colonos, na maioria irlandeses, eram da pior qualidade e, depois de criarem mil e um problemas ao diretor Barzillar Cottle e ao governo provincial, deixaram a colônia.
Linha colonial Sixteen Lots
Os poloneses chegaram em agosto de 1868 e substituíram os irlandeses, ocupando a linha colonial “Sixteen Lots”, pois era exatamente 16 o número de lotes que a compunha. Já então, em completa anarquia, a Colônia Príncipe D. Pedro estava em vias de ser extinta, fato que realmente aconteceu em dezembro de 1868, e seu território e os seus negócios foram incorporados à Brusque. Em 1869, vieram mais 16 famílias polonesas que se juntaram às primeiras, mas logo passaram a demonstrar seu descontentamento e a manifestar desejo de se mudar para outro ponto do país.
A primeira tentativa de encaminhar os colonos polacos
A verdade é que Saporski e o Pe. Zielinski, polonês, que em 1867 substituíra o Pe. Gattone, já haviam obtido áreas de terras nos arredores de Curitiba, para onde planejavam encaminhar os poloneses de Brusque. Mas não era tarefa fácil a transferência de imigrantes de uma para outra colônia. Só o próprio imperador podia autorizá-la. Saporski, não desistiu diante das dificuldades surgidas para a concretização de seus planos e foi, pessoalmente à Corte advogar a causa dos seus patrícios de Brusque junto ao Imperador. Nada conseguiu, entretanto. Regressou ao Paraná, onde fundou um colégio, na atual Rua 15 de novembro, em Curitiba.
O Governo paranaense concede área para os colonos
Entre o exercício do magistério e a ideia fixa de trazer os poloneses de Brusque para o Paraná, Saporski continuou as negociações junto ao governo daquela Província para obter a concessão de área para a colonização e também concretizar a transferência dos colonos. Depois de superar entraves de toda sorte, afinal Saporski conseguiu a transferência dos colonos de Brusque. O governo paranaense criou a Colônia “Dr. Venâncio”, prenome do governador Venâncio José de Oliveira Lisboa, e se prontificou a cobrir as despesas de transporte dos poloneses de Itajaí para Curitiba. Isso foi em setembro de 1871, quase três anos após sua localização na Colônia Príncipe D. Pedro. Mas foi então que as coisas começaram a se complicar.
As dificuldades iniciais em Curitiba
Os carroções que transportaram os poloneses de Antonina até Curitiba, deixaram os imigrantes à porta do Colégio de Saporski, alegando que o seu compromisso era levar os colonos até ali. Nem um metro adiante. Saporski conseguiu alojá-los em casas particulares. Mas os colonos vinham sem vintém, desprovidos de tudo. Como manter-lhes a subsistência? O governo da Província tirava o corpo fora e ia retardando de dia para dia, a localização dos pobres poloneses que não tinham outro recurso que se amontoar às portas do Colégio de Saporski ou vadiarem pelas ruas da capital. A Câmara Municipal da cidade tomou sua defesa e resolveu intervir.
A distribuição dos lotes aos colonos polacos
Curitiba tinha um vasto patrimônio em terras ao redor da cidade. Improdutivo, esse patrimônio até então inaproveitado seria mais para atrasar o desenvolvimento urbano do que para o seu progresso. Resolveu, por isso, a edilidade curitibana localizar os poloneses de Brusque em Pilarzinho, onde Saporski – que era engenheiro, participou da divisão e demarcação dos lotes e da sua distribuição. As primeiras cartas de foro foram passadas pela Câmara em 28 de novembro daquele mesmo ano de 1871. Iniciou-se, assim, a colonização do rocio de Curitiba com esses e milhares de outros colonos, que pelos anos seguintes foram chegando da Polônia, da Alemanha, da Itália e de outras procedências, abrindo uma era de extraordinário desenvolvimento para todo o estado do Paraná.
(Reprodução parcial do texto de José Ferreira da Silva, Blumenau em Cadernos, Tomo XXXIX, 1998).