E claro se trata de comida, mas acaba sendo muitas coisas mais, pois escolhe também de forma brilhante mostrar o lado humano de cada chef, mesclando sua história de vida, sua forma de criar na cozinha e também o impacto em seu entorno.

Está disponível a sexta temporada e essa em particular, apesar de curta, considero excelente.

Eis que pela primeira vez, mostram um chef britânico, que acontece de ser uma mulher.  E descobrimos que essa formidável e carismática mulher nasceu na Índia e que a carreira inicialmente escolhida foi o Direito e com direito a Doutorado e tudo!!!

Mudando-se a Londres para estudar e casar (e sim, foi por amor), ela se descobre insatisfeita e começa timidamente fazendo com jantares em casa, como clubes. E assim tudo vai escalando, escalando e em 2017 ela abre seu restaurante e o batiza de Darjeeling Express, em homenagem ao Darjeeling Himalayan Railway, uma ferrovia de 88 quilômetros de extensão que liga o Oeste Bengali (Calcutá) aos pés dos Himalaias.

Até aí é uma história e tanto, mas há uma narrativa sensível no recheio, algo inesperado. Ela nos conta que como na Índia ainda há um sistema arcaico de castas: “quando nasce uma menina, não há celebração, nem fogos de artifício. É um momento de trevas na família. E, se tiver o azar de nascer outra menina, não é uma vida, é quase uma morte. Minha mãe chorou quando eu nasci. Fui a Segunda filha.” Aí o ar fica denso, o nó na garganta aperta e só é possível respirar fundo para essa sensação de tristeza passar.

Dessa forma vai ficando evidente que isso aliado ao fato de uma outra história que ela nos conta, quando na infância seu pai a leva num dos terraços elevados da muralha da família, onde aos pés há uma favela. O pai diz a ela apontando: o que fez você nascer aqui e não ali é obra apenas do acaso e que você deve usar sua vida para fazer a diferença, pois quem nasceu em uma condição privilegiada tem por obrigação elevar os outros e honrá-los.

Então descobrimos que são essas pedras fundamentais que Asma utiliza para levar sua vida, fazendo diferença como pode e sendo atenciosa com todos em seu restaurante, o qual percebemos alimenta muito além do corpo físico. Asma consegue o incrível feito de ter um restaurante inteiramente conduzido por mulheres, (sim só há mulheres em sua cozinha). Além de tudo, essas mulheres são suas amigas e ela conduz esse grupo com base no apoio e no empoderamento mútuos. Ela diz que o restaurante é tanto dela, quanto dessas mulheres, as quais diz que são as “donas” da cozinha.

Darjeeling Express é um oásis para as mulheres como ela diz e também que ela viu essas mulheres crescerem, erguerem a cabeça e se orgulharem e isso é o que acontece quando mulheres se apoiam.

Como se isso tudo não bastasse ela ainda fez mais! Criou uma fundação cujo objetivo é comemorar o nascimento de segundas filhas, pagando pela festa, pelos doces e pelos Fogos de Artifício através da afirmativa: Se você se considera indesejada, que não é igual, você levará luz. Você poderá fazer o que quiser!

Dessa forma Asma nos ensina singelamente que sim, tudo é possível e que somos capazes de mais, quando há apoio, respeito e amor!

Assista e se emocione também!!!


Gislaine Bremer