Primavera e os telhados dourados da Mata Atlântica
Este ano, a primavera tem sido chuvosa, o sol se escondendo na maior parte do tempo e os dias sombrios, nebulosos, cinzentos, carregados de tristeza. Tem sido uma primavera encharcada, de muita chuva caindo sobre as ruas da nossa cidade, sobre o quintal e o telhado das nossas casas. É uma sensação estranha, inexplicável. Mas, ao cair sobre o telhado e escorrer pelo beirado da casa, parece que a chuva enche a nossa alma de tristeza. Para mim, dia sombrio e chuvoso, dia de gente entristecida.
Felizmente, a natureza continua forte. Não se afasta do seu calendário nem da sua rotina circular de mudança sazonal. A chuva caiu, a água rolou, mas os pássaros estão de volta para cantar ao lado dos seus ninhos, berços de palha e plumas da renovação, do milagre da vida, da transformação de pequenos ovos em novas asas voadoras, a cada estação primaveril.
Todas as manhãs e de todos os lados desponta o maravilhoso canto de sua majestade, o sabiá-laranjeira. Empoleirado no galho de uma árvore do quintal e ainda dormitando, o mestre do cântico das aves entoa seu belo concerto matinal, cujos acordes chegam aos nossos ouvidos ainda de madrugada, tão cedo que nos encontra na cama. Não é apenas o sabiá-vermelho. Tem, ainda, o sabiá-preto e outros pássaros quase desaparecidos de nossos quintais e jardins. Felizmente, a natureza parece estar vencendo o perigoso duelo da vida e da esperança contra o desmatamento e a morte no gatilho da espingarda, nas mãos do caçador que vai fazendo parte de um passado sem retorno.
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As flores também estão de volta, nos jardins das nossas casas, nas ruas e nas praças da cidade. E, mais importante, nas nossas matas, que precisam de preservação sem radicalismo, para a vida saudável, sustentável, respirável, num ambiente de razão humana e de equilíbrio.
No último domingo, vi outra vez a natureza mostrando toda a sua força. A bela cobertura florestal da Serra do Mar está de volta, em franco processo de restauração. Vi, também, a beleza dos telhados dourados que despontam das copas do arvoredo da nossa Mata Atlântica, ao longo da BR-101. São os garapuvus, com suas flores amarelas, brilhantes, cintilantes, destacando-se no meio da folhagem, cobrindo de ouro, iluminando a exuberância da floresta verdejante.
Nossos catarinas litorâneos, vindos num tempo de imigração e fome das isoladas ilhas açorianas, pescadores de profissão, navegadores por precisão, encontraram no garapuvu, essa extraordinária árvore de tronco imenso, madeira mole de fácil escavação, a matéria-prima abundante para o entalhe da canoa de um pau-só, a rústica embarcação da pesca artesanal, marcada pelo heroísmo de enfrentar as águas, nem sempre calmas, da imensidão oceânica. Graças a essa majestosa árvore, nossos antepassados açorianos garantiram a sobrevivência nos primeiros e duros anos de arribados em terras desconhecidas e, ainda, desertas da presença humana. E o garapuvu, por uma boa causa, porque viver é preciso!, quase desapareceu da nossa Mata Atlântica.
Agora, tempo de preservação, desmatamento proibido, a cada primavera, podemos contemplar novamente o maravilhoso espetáculo da natureza, os garapuvus renovando suas imponentes e frondosas copas de ouro, porque faça sol ou chuva de molhar, esta é a estação das flores e a vida não pode morrer.
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