A SC-409, mais conhecida como a Serra do Moura, é o sexto acesso a Brusque e região abordado na série de reportagens Raio-X das Rodovias. A via estadual está praticamente abandonada e apresenta várias deficiências em diversos aspectos.
Os moradores se dizem indignados, e alguns desacreditados não quiseram falar com a reportagem porque “não adianta”. Eles afirmam que já foram feitas várias promessas, protestos e cobranças tanto para a Prefeitura de Brusque quanto para o governo do estado, mas nada nunca foi feito.
A reportagem percorreu toda a Serra do Moura, até Canelinha, nesta terça-feira, 6, logo depois do meio-dia. Havia sol forte, por isso a poeira tomou conta de vários trechos. O maior problema é a falta de pavimento.
A SC-409 apresentou as piores condições para os motoristas entre as visitadas pela reportagem. A má qualidade da rodovia está ligada a outro problema, segundo os moradores: a falta de canalização. Com isso, a água invade a pista, causa alagamentos e ainda cava verdadeiras valas que prejudicam os veículos.
Já na descida da Serra do Moura, além das valas e dos buracos, os motoristas precisam se preocupar com crateras que se abriram aos pés de vários morros.
A reportagem avaliou, ou tentou, as sinalizações vertical e horizontal. No entanto, não existe nenhuma placa na parte pertencente ao bairro Santa Luzia, tampouco no Nova Itália. Nem mesmo os moradores sabem dizer qual é o nome oficial da rodovia. Quando passam o endereço, dizem “Serra do Moura” na falta de outro nome.
A via também não possui acostamentos em praticamente todo o trajeto de mais de 10 quilômetros entre Brusque e Canelinha. Existem alguns poucos pontos mais largos.
Motoristas também têm de ficar atentos porque a rodovia é bastante estreita. Em alguns trechos, é preciso aguardar para passar um por vez, pois não há largura o suficiente para dois carros.
A vegetação está quase em cima da via em quase todo o trajeto. Há pontos em que o mato chega a prejudicar a visibilidade nas curvas. Há vários trechos com curvas fechadas, sem sinalização.
Já em Canelinha, o marco para saber quando chegou-se ao limite dos municípios é um cruzamento, porque não existe uma placa ou outro sinal oficial.
Sem projeto ou previsão
Assim como no caso da SC-420, que liga Guabiruba e Blumenau, o governo do estado não tem nenhuma previsão de quando a situação da SC-409 vai melhorar. A reportagem entrou em contato com a Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) de Brusque e questionou se existe algum projeto de pavimentação, previsão ou mesmo dinheiro para a obra.
A resposta foi encaminhada pela Gerência de Obras de Transporte (GOT), do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra). O órgão foi sucinto em sua resposta. “Não existe projeto nem previsão”, informou.
A pavimentação do acesso Brusque-Canelinha é uma novela antiga. Em julho de 2015, prefeitos da região elegeram a obra como uma das prioridades do Orçamento Regionalizado, previsto no Plano Plurianual (PPA) de 2016 a 2019. Este PPA ainda está em vigor, no entanto, ainda não existe previsão de que saia do papel.
Pó e lama atrapalham moradores
Edemar Dehlagne mora na rua SL-018, uma pequena transversal da rodovia, logo no início da Serra do Moura. Ele diz que os problemas são muitos, mas os buracos e a poeira, que vira lama em dias chuvosos, são os piores.
“A poeira atrapalha bastante, suja a roupa no varal”, diz o morador. A mãe dele também reside no mesmo endereço e reclama. A casa deles também é atingida por água que não é drenada e vem da rodovia.
Ana Vechini, vizinha de Dehlagne, diz que a água que vem da SC-409 prejudica a passagem. “Quando chove no sábado, só eu e minha vizinha que vamos à missa”, diz a senhora. “Abre umas gamelas de água”, completa. Segundo dona Ana, a patrola passa poucas vezes, e quando o faz, piora tudo.
Moradores arrumam via por conta própria
Um pouco mais adiante, ainda no Santa Luzia, Natanael Rossinski diz que, inclusive, de vez em quando pega a enxada e vai abrir a vala ao lado da rodovia para tentar ajudar a escoar a água. Segundo ele, várias poças se abrem quando chove porque não existe canalização para o rio ou a chuva.
“O carro arranha todo embaixo”, reclama o morador. Natanael tem uma confecção e, de acordo com ele, clientes já deixaram de levar serviço porque a via é muito ruim.
Elias Rossinski, irmão dele, mora na SC-409 e também reclama. Ele se diz desesperançoso com a ação do poder público. Ele já chegou a fazer protesto, mas sem efeito. Ocasionalmente, Elias também faz roçadas, porque o mato invade a rua.
Buracos prejudicam até o transporte coletivo
Antônio Mafra mora na SC-409 – no bairro Nova Itália – há 50 anos e diz que a via está pior. “O principal problema são os buracos”. Assim como todos os moradores, ele afirma que a “água comeu a rua” e, por isso, abrem-se verdadeiras crateras.
Mafra conta que já houve muitas promessas tanto do estado quanto da prefeitura de asfaltamento.
O neto dele, André Mafra, estuda na escola José Vieira Côrte e também sofre com o estado da rodovia. O estudante vai para a escola de ônibus e diz que os dias de chuva são os piores.
Próximo dali, Terezinha Gomes diz que sofre especialmente com a poeira. Mesmo com o sol da tarde, a casa dela permanecia fechada. “Está tudo fechado, por aqui não dá para abrir”, comenta. Segundo ela, os buracos “acabam com o carro”.
Residentes dizem que não existe manutenção na via
Os moradores de Canelinha usam a SC-409 costumeiramente para ir a Brusque. Odair Weber diz que o poder público não faz reparos. “A manutenção da estrada está uma desgraça”.
Venceslau Weber diz que falta fazer roçadas e tapar os buracos porque à noite não dá para passar pela rodovia devido ao perigo.
Arlindo Veber também mora em Canelinha e, assim como os outros dois, passa pela rodovia constantemente no sentido a Brusque. Ele é vereador e diz que o governador falou que iria asfaltar 15 quilômetros da Serra do Moura em uma reunião realizada no município, no entanto, nada foi feito.