Refugiados do RS: 14 pessoas da mesma família são acolhidas em casa de Brusque
Gaúchos saíram de Canoas e estão abrigados na casa de amigos no município
Gaúchos saíram de Canoas e estão abrigados na casa de amigos no município
Após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio, 14 pessoas da mesma família estão abrigadas na casa de amigos em Brusque. Também gaúchos, o casal Juliana e Alessandro Duarte, que mora no município há cinco anos, disponibilizou sua casa para a família de Tatiana da Silva morar temporariamente.
Tatiana e 13 parentes, seis adultos e sete crianças, estão morando na casa da família Duarte após as suas residências em Canoas (RS) serem tomadas pelas águas. Amigos de longa data, as famílias se conhecem há mais de 19 anos.
Moradora do bairro Rio Branco há 50 anos, um dos mais atingidos em Canoas, Tatiana conta que nunca tinha vivido uma situação como essa. “[No início] a gente pensou ‘isso é fake, não existe, nunca aconteceu’. Só que daí a gente começou a observar as ruas alagando. Aí a gente ergueu as coisas e pensou que o máximo que ia acontecer é uma aguinha no joelho”, relembra.
Tatiana, o marido, sua mãe, a filha e os três netos foram para a casa de seu outro filho. Mas tiveram que evacuar o local novamente. A nora Renata conta que eles pensaram estar em segurança na sua residência e que não acreditavam na força da água. “Meu esposo falou ‘para chegar aqui tá tudo muito debaixo d’água, impossível, mas chegou’”, diz.
“Eram 5h da manhã, a gente estava dormindo na casa dela e passou o carro de som pedindo pra evacuar. A gente levantou meio tonto, já juntando tudo e sem rumo, sem saber para onde ir”, desabafa Tatiana.
Após evacuarem as casas, os familiares foram para a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), onde Tatiana estuda fonoaudiologia. O local estava servindo como abrigo aos afetados. “Chegando lá era uma multidão chegando de tudo que é forma, carro frigorífico lotado de gente, carros carregados de gente, criança, bichos, tudo junto”, afirma.
Depois, eles foram para a Associação Canoense de Deficientes Físicos (Acadef), localizada em uma área mais alta da cidade. “Eles iriam nos acolher, só que eu disse que é injusto ficar onde eles já tem tão pouco e querem dividir com a gente, aí não quis ficar lá”, diz.
Foi então que a chefe de Tatiana ofereceu uma casa em Tramandaí, no litoral norte do RS. Lá, também começaram fortes chuvas e o trauma de escutar o barulho da água reapareceu.
Nesse momento, Juliana e Alessandro os convidaram para morar em Brusque, em sua residência. O convite veio na hora certa para a família de Tatiana. “Eu não pensei duas vezes. Eu digo ‘segurança em primeiro lugar’, depois a gente vê o que vai acontecer.”
Após o convite, o casal se mobilizou para disponibilizar roupas e alimento para os amigos que iriam receber. Mas Juliana conta que não esperava tantas doações.
“Eu só pedi pra minha vizinha uns colchões emprestados. Ela disse ‘deixa comigo que eu vou conseguir’. E dali em diante tornou-se uma proporção tão grande, porque eu jamais podia imaginar que pessoas que eu nem converso iriam ajudar. Quando eles chegaram já tinha cama, colchão, já tinha tudo pra eles”, compartilha.
Tatiana reforça que a solidariedade das pessoas foi algo emocionante. “Fomos muito bem acolhidos. Não para de chegar gente ajudando com roupa, alimento. Eu só tenho gratidão porque tá todo mundo vivo e tiveram pessoas que perderam filho, mãe”, diz.
“Os bens materiais se vão mas a vida é insubstituível. Então só tenho gratidão a Deus por ter nos preparado esse lugar provisório”, completa.
Ela relata que apesar de querer ficar, eles pretendem voltar para Canoas para verificar o que sobrou das casas, da empresa do marido e dos trabalhos. Mas as esperanças de encontrar algo já se foram.
“Ficou tudo totalmente submerso e são muitos dias embaixo [d’água], então só vamos encontrar coisa para jogar fora, não vamos encontrar nada.”
A família não tem notícias do estado que suas casas se encontram no momento. Agora, alguns adultos já conseguiram emprego em Brusque e outros seguem à procura.
“Meu filho já tá trabalhando, já foi abençoado com trabalho. Então, eles decidiram ficar”, diz Tatiana, ao referir-se ao seu filho e marido de Renata, Robson. Ela, o marido e os quatro filhos pretendem recomeçar a vida no município.
Ao todo são 18 pessoas dividindo a rotina, desde o dia 6 deste mês. Nove crianças e nove adultos. Apesar da mudança, a convivência entre as crianças é tranquila. “Eles estão de boa, eles são muito acessíveis e escutam o que a gente fala”, afirma Juliana.
Algumas das crianças retornaram para a escola e compreendem a situação. “Os meus filhos já voltaram ontem [para o colégio] e era aquela pergunta de antes: ‘Mãe, a água não vai chegar aqui?”, descreve Renata.
“Apesar de não ser fácil a decisão de ter saído no meio de tudo, é como se a gente tivesse sido arrancado da nossa história, mas somos muito gratos. Mas a gente não deixa de sentir, né? As pessoas que a gente deixou, tudo que a gente viveu lá”, desabafa.
Rafael, de 9 anos, filho de Renata e neto de Tatiana, apesar da pouca idade já entende a experiência vivida por toda a sua família. “Aqui não tem enchente. Aqui é um lugar lindo.”
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