Passa tempo tic tac
Gosto de saudosismos, e ciclos, e reativar memórias. Este ano, ao me dar conta que completaria 15 anos de um dos momentos mais inspiradores que já tive, resolvi vasculhar materiais e trazer de volta, de forma diferente, o conteúdo do livro-reportagem “Charlotte”.
A história da mãe Bernadete Rocha e sua filha portadora da síndrome de Down que revolucionaram a forma de encarar esta e outras limitações, genéticas ou adquiridas, trazendo para Brusque um método de reorganização neurológica, foi meu tema. Fiz as entrevistas e redigi os capítulos no primeiro semestre de 2002, para que fosse apresentado como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da Univali. Foram meses de muitas novidades e de absoluta imersão nessa incrível jornada em busca de resultados, inclusão, informação.
Nos meses seguintes, como havia sido sugerido pela banca avaliadora da Universidade, fui em busca de viabilizar a publicação. Até que recebi a resposta positiva, da Irmãos Zen S/A, através do Tato, um dos diretores. O lançamento ocorreu em 24 de abril de 2003, no Shopping Gracher, com lançamento também na Univali, em Itajaí, na noite seguinte.
De lá pra cá muitas histórias me chegaram por causa do livro. Mães à espera de bebês com a mesma síndrome, professores que atuam com crianças especiais, pais que queriam saber sobre o trabalho na Escola Charlotte, gente curiosa e gente que gosta de uma boa história. O livro chegou a lugares distantes, parou nas mãos de um cineasta que convidou a menina brusquense para integrar um filme, foi distribuído em bibliotecas e livrarias do Estado.
Mais que isso, o livro foi instrumento de informação nas palestras que Bernadete tem feito ou em atividades da Escola. Em conversa com a diretoria, falamos da necessidade de fazer uma nova edição, pois os exemplares estão acabando. Mas, até viabilizar esta publicação, que depende exclusivamente de verba, resolvi marcar a data comemorativa com a reedição do conteúdo em formatos de e-book e áudio livro.
Passado a limpo
Eis então que me deparei com a crueldade da passagem do tempo, no que se refere aos suportes e tecnologias utilizadas em 2002 e que praticamente caíram em desuso. Guardei uma caixa, com todo o material produzido na ocasião para, a partir dele, realizar a reedição. Porém, há 15 anos, o armazenamento de textos e fotos escaneadas era feito em disquetes. No caso do livro, mais de 20, pois sua capacidade era bem limitada. Tudo o que hoje caberia num pendrive. Encontrar um computador com leitor de disquete, na esperança de obter o texto digitado, foi extremamente difícil. Depois de diversas tentativas até que os disquetes não abriram numa lan house, segui por outro caminho, utilizando a tecnologia dos aplicativos de celular. Como tinha a versão impressa do texto, baixei um scanner e, pelo celular, digitalizei cada página, salvando em formato pdf. Depois, um conversor online transpôs o texto em pdf para o formato Word.
Após retocar algumas letras “mal lidas” pelo conversor, veio o trabalho de reescrever palavras que sofreram alteração após o novo acordo ortográfico – outra mudança ocorrida neste intervalo de tempo.
Assim, os disquetes, como o caderno escrito à mão com as pesquisas feitas na biblioteca e as fitas cassete com as entrevistas, viraram peças de museu e serão guardadas com esmero como tais.
Dando voz
Outra curiosidade veio no processo de gravar em áudio o conteúdo do livro. Como em muitas passagens o texto está em primeira pessoa, pois me incluí na história em certo momento, e também pelo fato de eu contar histórias, a locução foi feita por mim. Os textos informativos de capa, índice, ficha técnica e também o prefácio ganharam a voz da amiga Patricia Souza.
Ao ler diretamente do livro impresso, percebi que certas sinalizações gráficas não existem na narrativa oral, como as aspas ou travessão. Então, a adaptação ocorreu utilizando-se novas expressões, como “Ela disse”, antes de uma fala, ou “ela contou” após outras que formavam um diálogo. Fora esses detalhes, o texto foi gravado na íntegra e num tom de conversa ao pé do ouvido.
Atualização feita com sucesso
Uma entrevista recente com Bernadete e Charlotte resultou em um capítulo extra, trazendo o leitor para os dias atuais, pontuando novos temas, descrevendo os rumos das vidas dos personagens. Nele, além de impressões que tive ao voltar à Escola, sentar no chão para conversar com as duas, assistir o trabalho feito com as crianças, trago informações sobre autismo e sexualidade dos portadores da síndrome de Down.
No ar
No dia 24 de abril, terça da semana que vem, ao fechar o ciclo de 15 anos, acontecerá o lançamento das versões e-book e áudio livro. Na onda das novas tecnologias, aproveitando recursos de comunicação surgidos recentemente, farei o lançamento de forma virtual. Às 20:30 horas haverá uma transmissão ao vivo pelo Facebook, tanto pelo meu perfil quanto pela página Escola Charlotte (e por quem mais quiser compartilhar!). Assim, todos estão convidados!
Além de contar algumas curiosidades, mostrar fotos do dia do lançamento de 2003, estarei recebendo abraços virtuais de amigos e familiares, respondendo perguntas e, claro, divulgando os links para acesso aos dois novos formatos do livro.
Lieza Neves – atriz, escritora, produtora cultural