Seguindo a onda de cinebiografias musicais, precedida por Bohemian Rhapsody, estreou na última quinta-feira no Brasil Rocketman, sendo Elton John o biografado da vez. Apesar de dirigidos pelo mesmo diretor, Dexter Fletcher, os dois filmes pouco têm em comum. Em Rocketman, o diretor usa do surrealismo para demonstrar a trajetória de vida do tímido Reginald Dwight, um menino de bons ouvidos e talento para o piano até sua transformação no ícone que conhecemos talvez de maneira bem rasa hoje.
Uma faceta pesada da vida de Elton é mostrada nas telas: pode-se perceber que grande parte de seus problemas com álcool, drogas, raiva e sua obra foram pautados pela busca do amor. Amor de pai, amor de mãe, amor de seus companheiros sexuais. O filme é uma investigação de sentimentos, de como eles afetaram a vida de Elton e suas escolhas. Quem via seus figurinos espalhafatosos não imaginaria que, por trás de todas as cores, brilhos e óculos extravagantes, estava alguém cinza e solitário, que ansiava somente pelo abraço do pai, abraço este que nunca ganhou. Desejava o amor maternal, mas o que recebia era o desprezo da mãe por ter um filho homossexual, que, segundo ela, jamais conheceria o verdadeiro amor.
O diretor conseguiu transmitir essa atmosfera densa fazendo uso das canções de Elton de forma pontual, sem ser um daqueles musicais onde todos os diálogos são musicados. Inclusive, Targon Egerton, o ator do papel principal, canta mesmo durante o filme e manda muito bem nos quesitos voz e afinação. As cenas de palco são onde Targon realmente e literalmente brilhou, mostrando-se um ator versátil, talentosíssimo, totalmente rendido aos trejeitos de Elton e por vezes nos fazendo acreditar que seria o próprio nas telas.
Nos momentos finais do filme algumas cenas um pouco sentimentalóides, porém bastante simbólicas, fazem sentido no contexto surreal em que aconteceram. E aí você percebe que todo o excesso contido ali foi o plot twist necessário para uma vida mais serena e com mais sentido para Elton. O filme termina com I´m still standing e acho que nada poderia ser mais simbólico que esse título e essa faixa para a trajetória de Elton John.
Saí da sala escura com a sensação de que talvez eu esteja falhando em minhas demonstrações de amor (olha eu sendo sentimentalóide aqui também), que eu preciso trabalhar nisso. Não sei se foi só uma sessão de cinema ou uma espécie de divã, mas coloquei na minha lista de prioridades tentar amolecer a minha casca. Será que tem mais alguém aí precisando?
Morgana Moresco – empreendedora e reflexiva