Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Mestres, Tecelões e Industriais têxteis: Memória e homenagem no Cemitério Luterano de Brusque

Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Mestres, Tecelões e Industriais têxteis: Memória e homenagem no Cemitério Luterano de Brusque

Rosemari Glatz

O Dia de Finados é comemorado no Brasil em 2 de novembro, e muitas pessoas cumprem o ritual de ir até os cemitérios levar flores e homenagear seus mortos. Missas e cultos são celebrados e, independentemente da crença ou da religião, a prece proferida pelo coração santifica a lembrança e conforta.

Se a morte é o derradeiro rito de passagem concretizado na cotidianidade, que concentra significados e valores de uma determinada cultura, também podemos afirmar que os cemitérios são importantes fontes históricas e colaboram para a preservação da memória familiar e coletiva de um povo. Em algumas culturas, os túmulos e cemitérios são verdadeiras representações artísticas e possibilitam a compreensão de crenças religiosas, posturas políticas, revelam profissões e gostos artísticos da sociedade. Oportunizam o conhecimento da formação étnica de uma comunidade, a expectativa de vida da população e contribuem para estudos genealógicos.

Em Brusque, considerada o berço da imigração polonesa no Brasil, o cemitério da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do centro é um rico exemplo de preservação da memória coletiva, uma maravilhosa exposição de arte e de fé, um verdadeiro patrimônio histórico. Além da sua beleza estética, possui valor histórico-social inestimável, pois lá está sepultada grande parte dos imigrantes poloneses rememorados como “tecelões de Łódź”. Eram imigrantes de etnia alemã, protestantes (hoje denominados luteranos) que estavam estabelecidos em território polonês, e que chegaram a Brusque a partir de 1889.

Neste cemitério encontramos sepultados desde mestres tecelões que impulsionaram a indústria têxtil, a exemplo das famílias Haake, Hartke, Jeske e Wilke, até grandes industriais, como a família Schlösser. Juntos, tecelões e industriais contribuiriam efetivamente para a transformação da Brusque colonial para a Brusque industrial.

Entre os tecelões, um nome que merece destaque, pois muito contribuiu para o desenvolvimento da indústria têxtil, é Emilie Abe Haake. Ela e sua família emigraram de Tomaszów Mazowiecki, próximo a Łódź, Polônia. Mais conhecida como “Mutter Haake”, ela foi uma verdadeira referência na arte da tecelagem industrial, a primeira fiandeira da cidade. Emilie era viúva de um Hartke, e casada em segundas núpcias com Julius Haake. “Mutter Haake”, além de contribuir com seu próprio trabalho, treinava as novas funcionárias no mecanismo da fiação. Devido à sua importância dentro da indústria, Emilie tinha o privilégio de amamentar seus filhos nas dependências do emprego, coisa incomum naquele tempo. Tanto a família Haake quanto a família Hartke estão sepultadas no Cemitério Luterano de Brusque.

De igual modo, neste cemitério também estão sepultadas as famílias Renaux, Büettner e Schlösser, industriais e proprietários das três grandes indústrias têxteis fundadas e consolidadas entre o final do século XIX e início do século XX. Todas as três diretamente impactadas pela capacidade técnica dos tecelões de Łódź.

A arquitetura deste cemitério é composta por túmulos de pequeno porte, com pouca estatuária, e raros ornamentos, com destaque para os símbolos decorativos e esculturas. Há valorização da inscrição de epitáfios – a escrita de uma frase em relevo no túmulo, e áreas reservadas exclusivamente para famílias, a exemplo da família do Cônsul Carlos Renaux, grande industrial e pioneiro da indústria têxtil na região. Uma das sepulturas mais antigas do cemitério, ainda preservada, é de 1908.

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