Na semana passada, recebi o texto da sentença de um processo judicial do estado de Sergipe, em que um aluno tentava condenar o professor por danos morais, porque este “confiscou” seu celular durante a aula. É claro que o aluno perdeu, mas o juiz fez questão de frisar sua profunda decepção com um sistema educacional que transformou o professor em refém numa sociedade permissiva e desconectada.
Não vou falar do celular. Já o classifiquei em outro artigo de “crack eletrônico” e, aqui, o problema não é da tecnologia, mas dos seres pretensamente inteligentes que fazem uso dela.
O nó é a autoridade do professor. Como sustenta o juiz sergipano, abandonou-se o modelo que ele chama de autoritário e nada foi posto em seu lugar. Como tudo pode e nada é cobrado, chegamos a essa situação.
Mas, dessa vez, não adianta culpar os governos. Os responsáveis por essa decadência, em sua maior parte, são os próprios professores, além dos pais, naquilo que lhes cabe. Há décadas que o discurso pedagógico abandonou os pilares da educação clássica em nome de teorias psicológicas duvidosas e de ideias políticas e sociais contaminadas. Em nome do “construtivismo” ou da pedagogia “libertadora”, os professores foram abandonando sua função propriamente intelectual e a disciplina foi se afrouxando até chegar aos níveis insustentáveis de hoje.
Para reverter esse quadro é necessário se livrar de teorias arraigadas demais, que dominam desde os megadoutores das universidades mais destacadas aos professores das escolas mais isoladas do interior. Discordo da ideia de educação autoritária no período da “ditadura”, como aparece na sentença do juiz que mencionei. A postura intelectual e moral do professor, em qualquer sistema político, é o que faz a diferença.
Criança sempre precisa de controle e disciplina. Precisa que pais e professores exerçam verdadeira autoridade sobre ela, dirigindo suas atividades, exigindo esforço e cobrando resultados, independente de gosto ou de preferência. Quando isso não acontece, os espaços vazios são preenchidos pelos frutos da preguiça e da indolência. Os prazeres sensuais (não controlados e não disciplinados) tomam conta da imaginação do indivíduo e o resto a gente já sabe muito bem, basta olhar ao nosso redor. Nesse “paraíso” de sexo, drogas e futilidades, o descompromisso é a tônica. Há jovens com mais de vinte anos, cuja idade moral estancou na primeira infância, e ninguém aceita ser contrariado.
É preciso dar fim a esse excesso de liberdades, voltar ao passado e recolher o que ele tinha de bom e que nós jogamos fora: o método silábico de alfabetização, a aplicação e correção rigorosa dos deveres de casa, o rígido controle dos pais. Mas friso, ainda, a necessidade de que a religião volte a ocupar o seu espaço na formação moral do indivíduo e a preencher de modo mais efetivo esse nosso anseio de sentido, ocupado por prazeres vãos e ideologias mentirosas.
Temo que um propósito assim encontre muito mais resistência que apoio nos meios educacionais, mas me dou o direito de continuar sonhando.