Eu gosto de títulos!! Confesso! Lendo “As palavras e as coisas- Uma arqueologia das ciências humanas”, de Michel Foucault, onde no prefácio, este autor diz que seu livro nasceu de um texto de Jorge Luis Borges, que cita uma certa enciclopédia chinesa, criando uma taxionomia para animais. (Taxionomia, no dicionário formal, trata da “teoria das classificações; ciência que se dedica à classificação e categorização dos seres vivos” ou ainda, de forma mais ampla: “classificação das palavras”).

Em seu texto, Borges cria um tipo de classificação para animais, totalmente distintos do que geralmente estamos acostumados, eis sua divisão: “a) pertencentes ao imperador; b) embalsamados; c) domesticados; d) leitões; e) sereias; f) fabulosos; g) cães em liberdade; h) incluídos na presente classificação; i) que se agitam como loucos; j) inumeráveis; k) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo; l) etcetera; m) que acabam de quebrar a bilha e n) que de longe parecem moscas.” A lógica formal, mantida pela classificação do abecedário, rompe-se com os nomes dados a cada espécie, formando uma taxionomia praticamente incongruente, já que não nomeiam, antes fragmentam, desconcertam.

Percebo então, que meus títulos, por mais que pareçam “dar nome aos bois”, no entanto buscam trazer outro tipo de classificação, ou, eu diria in-classificação, no intuito de descrever coisas que possuem muitas camadas de significação, que não são visíveis de imediato. São títulos que buscam atingir o que não está formatado, criando uma ordem , que aparentemente absurda, busca reflexões individuais para dar forma a partir de um conteúdo transitório e peculiar.

Sim, eu gosto de títulos!!! Mas títulos que instigam a um pensamento que está, como diria Caetano Veloso “…fora da nova ordem mundial!” Trazer presente coisas que não fazem parte da organização , mas que praticam a desordem, e sobrevivem ao tempo, sem nomes, sem isto ou aquilo, mas com uma força interna que habita mentes e corações, sempre em movimento, empoderados da poética do viver, sem cárcere, sem métrica, sem ideologias.

 

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Sílvia Teske – artista