Por ficar a 150 km da capital Santiago, o Vale do Colchagua é muitas vezes deixado de lado nos roteiros quando se visita o Chile, pois há outras regiões vinícolas mais próximas da capital, como Maipo e Casablanca, mas posso afirmar que vale a pena. Se você puder colocar de dois a três dias para conhecer a região com calma, tenho certeza que irá se apaixonar como eu.

Em 2003, a prestigiada revista norte-americana Wine Enthusiast a elegeu como a melhor região vinícola do mundo.

Destaca-se pelos vinhos tintos cabernet sauvignon, syrah, malbec e a uva considerada a melhor do país, a carménère. A cordilheira dos Andes tem grande participação na qualidade, pois protege do clima mediterrâneo temperado, suavizado pela brisa que vem do Pacífico e as águas do rio Tinguiririca.

Eu particularmente gosto de visitar vinícolas quando elas estão com os pés ainda carregados de uvas e folhas verdes, ou com cores de outono, lindo demais! Assim, fomos em março conhecer a região, já era final de verão, dias lindos de sol, e não tão calor. Uma dica é verificar o período da vindima – colheita – antes de ir, que geralmente acontece em março e abril.

Começamos a explorar pela Vinã Montes, considerada a percursora dos vinhos de alta qualidade no país, fundada em 1988. Escolhemos fazer o Tour Ícones. Começamos aprendendo um pouco sobre o processo de vinificação na sala dos tanques. A produção anual total é de aproximadamente 14 milhões de garrafas e 95% é exportado para mais de 100 países.

O auge do tour é visitar a sala onde os melhores vinhos descansam em barricas de carvalho francês ao som de músicas gregorianas, onde as vibrações das notas musicais dão o toque final na sua elaboração. Ali em uma sala toda de vidro com vista para as barricas fizemos a degustação dos vinhos ícones, por isso o nome do tour.

Continuamos o passeio ali mesmo na propriedade para o almoço. No Restaurante Fuegos de Apalta, do renomado chef Francis Mallmann. A culinária baseia-se na simplicidade dos melhores produtos do vale, como carnes especialmente criadas na área do Lago Ranco, cordeiro patagônico e peixe da costa. O restaurante é todo de vidro em muita madeira, assim você pode ver os cozinheiros preparando seu prato. Isso tudo cercado pelas parreiras.

Próxima parada é na Santa Cruz, os vinhos não são premium como na Viña Montes, mas vale a visita também. Saímos do estilo moderno para um casarão lindo, amarelo, no meio dos parreirais. No Tour Gran Chamán, recepcionados no casarão seguimos para os tanques de fermentação e logo para a adega, onde são degustados alguns vinhos. Depois seguimos em um teleférico até o topo do Cerro Chamán. Há uma espécie de museu com representações de moradias de três etnias do Chile, Mapuche, Rapa Nui e Aymar, algumas lhamas e um terraço com uma linda vista do vale. Há também o Museu do Automóvel, com uma coleção de carros antigos.

Lapostolle é o mais francês dos produtores chilenos. Fundada pela francesa Alexandra Marnier, elabora vinhos tintos, brancos e rosés, e é conhecida pelos seus vinhos de alta qualidade, inspirados nos melhores vinhos europeus. A arquitetura, o tour e, claro, os vinhos, superaram as minhas expectativas. Ali também fica o único Relais Chateaux do Chile, o hotel Lapostolle Residence, com diárias desde US$ 1,5 mil para o casal. Como tínhamos agendado o almoço para depois do tour, pudemos conhecê-lo e esperar ali enquanto o passeio não começava.

Nessa vinícola é produzido somente os vinhos Clos Apalta, considerado o melhor do mundo em 2005 pela Wine Spectator. O vinho passa pelo processo gravitacional, ou seja, começa a fabricação em um andar e conforme vai envelhecendo nas barricas eles vão mudando de andar, sempre para baixo, até chegar na profundidade de 25 metros. A degustação é feita na sala das melhores safras, e a temperatura é baixa, ganhamos mantas para nos manter aquecidos. Ali também está a adega dos proprietários.

Para fechar com chave de ouro esse passeio, seguimos para o hotel para o almoço harmonizado. Impecável! Para harmonizar com a sobremesa foi servido o licor Grand Marnier, que é também de produção da mesma família.

Uma curiosidade, em 2011, Kate Middleton escolheu o sauvignon blanc da casa, cultivado no Vale de Cachapoal, para o jantar da noite que antecedeu o casamento real.

Para terminar o dia e as visitas na região seguimos para Viu Manent, como não sabíamos a hora que iríamos chegar, não reservei nenhum passeio. Mesmo assim pudemos caminhar pela propriedade. Fundada em 1935, do total da produção, 85% é exportada para 45 países. Em 1993 foi a primeira a produzir e etiquetar um malbec chileno, que é a especialidade da casa. Em seus tours é possível visitar uma parte dos 254 hectares de vinhedos durante um passeio de charrete.

Atravessamos a rua, ali em frente tem um “jardim de uvas” são parreiras de diversos tipos. Admirando, você consegue perceber algumas sutis diferenças de seus tamanhos e cores, tanto das uvas como das folhas. Sentamos embaixo de uma grande árvore que fica no Restaurante Rayuela – dizem ser sensacional – e fizemos nossa própria degustação, tranquilos durante o final da tarde.

Ficamos hospedados no Hotel Santa Cruz Plaza, ótimo hotel, onde há um pequeno casino e também Museu de Colchagua, ótimo para entender a história do vinho e da região. Trata-se da maior coleção privada chilena, com 5 mil peças que exibem desde arte pré-colombiana até carruagens do século 19, maquinaria antiga usada na produção de vinho e uma exposição sobre os 33 mineiros que ficaram soterrados em 2010. Fiquei impressionada com o tamanho do acervo.

O passeio foi incrível, chegamos de manhã para o primeiro tour e ficamos duas noites. Tempo ideal para depois continuar explorando outros lugares do país.

Frase: Um bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, quando tomado com sabedoria
Willian Shakespeare