Estaciono o carro com dificuldade. Muito estreitinha a rua que dá na costureira aqui do bairro. Casinha charmosa, honrada de silêncio, porta sempre aberta, canteiro, roupas brancas impecáveis dando estética ao varal, pouca informação e muito o que dizer. Na pressa que nos infecta quase todos os dias agarro a sacola com a roupa pra arrumar, me arranco do carro e fecho a porta deixando um pedaço da minha saia guilhotinado.

– Aix! Saco! Ah! Oi, tudo bem?

Dirijo-me ao senhor que recém aparecera, na expectativa que ele fosse adepto aos códigos sociais impregnados em nós e que prontamente me respondesse que está tudo bem. Pra minha surpresa, ele não pôs fim na conversa, tratou de ser honesto com minha pergunta:

– Não. Não estou muito bem. Sabe o que é, moça? Agora que os filhos já estão grandes, casas feitas, eu e a mulhé com um dinheirinho pra gastar, não tenho mais saúde – num esforço em equilibrar o corpo com uma das mãos segurando as costas.

– Mas entra, entra, moça. Tá ainda com pressa? Ou aceita um café?

A roupa que levei tem reparo, mas nossa pressa e avidez de guardar… Sei não. Qual é o equilíbrio de poupar sem poupar de mais de nossas vidas?

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Karline Beber Branco – professora e mãe