No mês passado a OMS decretou a varíola dos macacos(Mpox) como estado de emergência de importância internacional. O surto de casos está localizado na África com mais de 15 mil casos e 460 mortes, a grande maioria dos casos acontece na República Democrática do Congo mas o vírus tem avançado até países como Uganda, Quênia e Ruanda. Há, portanto, preocupação de que possamos vivenciar uma nova pandemia quando ainda sentimos o impacto da pandemia de Covid-19.
Os especialistas consideram que a possibilidade de uma pandemia de Mpox é muito pequena. Isso porque a forma de contaminação exige contato direto com um portador. Todos os transmissores apresentam quadro clínico característico de fácil identificação, facilitando o isolamento e o bloqueio da transmissão do vírus. Mesmo com o contato próximo somente entre 15 a 25% das pessoas são contaminadas.
Lembremos que a varíola humana é uma doença viral que foi considerada extinta no mundo em 1980 após uma campanha mundial para imunização de todos os casos detectados e seus contatos próximos. Muitas das pessoas que passam dos 60 anos de idade tiveram varíola na sua infância.
Era uma doença terrível que deixava as pessoas acamadas e debilitadas por uma ou mais semanas e que tinha uma taxa de mortalidade superior ao 20%. Durante o século 20 morreram mais de 300 milhões de pessoas vítimas da varíola. Desde a década dos 80 a vacinação contra a varíola não faz parte dos programas de imunização recomendados pela OMS.
Essa vacina dava proteção também contra outros tipos de varíola incluindo a Mpox. Portanto hoje em dia a grande maioria da população mundial não está imunizada contra a varíola dos macacos.
Clinicamente a Mpox se caracteriza pelo aparecimento de lesões na pele, febre e aumento de volume dos gânglios linfáticos (ínguas). O hospedeiro reservatório primário não é conhecido, nas regiões endêmicas o vírus infesta esquilos, coelhos e outros roedores.
O primeiro surto de Mpox no ocidente aconteceu nos Estados Unidos em 2003 e foi originado pela importação de um rato africano contaminado. O surto de Mpox que preocupa atualmente teve início em 2022 na África Ocidental.
A onda mais recente no Congo tem como causante uma nova variante, denominada 1B. Este ano já se registraram mais de 15 mil casos e 500 mortes por Mpox na África, a grande maioria na República Democrática do Congo. A grande maioria das mortes acontece em crianças e mais de 70 % dos casos são de menores de 15 anos de idade.
Ao classificar a epidemia de Mpox como uma emergência de saúde pública de importância internacional a OMS alerta aos países para o surgimento de novos casos e estimula a colaboração e compartilhamento de informações científicas que permitam a identificação precoce e a adoção de medidas epidemiológicas para evitar a propagação da doença.
No Brasil, durante o ano de 2024, foram reportados 945 casos de Mpox entre confirmados e suspeitos sem nenhuma morte. Em Santa Catarina houve 50 casos de Mpox confirmados em 2023 e dez casos em 2024. Não houve identificação da variante 1B, mais agressiva, até o momento no Brasil.
A vacina contra a varíola tradicional tem uma proteção de 85% contra a Mpox, porém já existem vacinas específicas que devem ter uma eficácia maior. A vacinação contra Mpox é recomendada apenas para a população considerada em risco por ter tido contacto com algum doente.
Vários medicamentos antivirais estão em fase de testes com resultados promissores. As evidências atuais apontam a que não haverá uma pandemia de Mpox pelos motivos citados e pelo fato que já se teve sucesso no passado em conter surtos desta doença.
É muito provável que o intervalo de tempo para uma próxima pandemia não seja de 100 anos como aconteceu entre a pandemia da gripe espanhola e a de Covid-19. Especialistas acreditam que será de umas poucas décadas.
Provavelmente todos os sexagenários morreremos antes de uma nova pandemia enquanto todos os jovens do presente dificilmente escaparão de vivenciar uma nova pandemia no decorrer de suas vidas.