Rosemari Glatz

Reitora da Unifebe

Xokleng, os indígenas em Brusque – Parte IV

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Xokleng, os indígenas em Brusque – Parte IV

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Martin Stabel Garrote, no artigo intitulado “Os Conflitos Étnicos entre Colonos e Índios no Sul de Blumenau/SC: Memórias” (2012), publicou trechos da entrevista que realizou com Jacó Venzon, de Botuverá, que demonstra uma outra percepção sobre o índio, remetendo a um certo respeito à sua presença no local. Já em outras regiões próximas, algumas narrativas demonstram que índios, ao entrarem em contato com o não índio, agiram com violência.

Jacó Venzon contou a Garrote que, até depois da Segunda Guerra Mundial, quando voltou à localidade dos Lajeados, ainda era frequente presenciar índios. Segundo suas memórias, quando criança ele teve um rápido contato com os Xokleng/Laklãnõ e assim o descreveu: “Era índio por que ele estava nu, se via que estava nu, era índio naquela época, eles não me fizeram nada por que o papai sempre dizia: vocês não fazem nada, que eles não fazem nada. O papai nasceu na Itália, mas ele veio morar aqui e dizia para a gente quando éramos pequenos: pelo amor de Deus! Gente, deixa ele estar, não mexe com eles. Eles assoviavam de noite, um na banda de lá, outros na banda de cá”, contou Jacó Venzon. Garrote acrescenta que, de acordo com as entrevistas que fez com os moradores da região, é possível concluir que inicialmente houve contatos de paz, e anos depois contatos mais violentos. Os relatos dos antigos moradores descrevem um contato com o índio, mas apenas com troca de olhares, sem contatos físicos. O índio era visto, percebido, e os contatos existentes eram de paz, sem uso da violência. Eram índios considerados mansos, desde que os limites fossem respeitados.

Mas a relação encontrada por Garrote em Botuverá parece ser exceção à regra. Pois é certo que contatos violentos com os índios existiram por parte de colonos e dos caçadores de bugres. Após a carta Régia em que Dom João VI declarou guerra aos “bárbaros índios Bugres e Botocudos”, aos poucos o povo indígena foi perdendo seu território com as frentes colonizadoras, que pelo extremo sul no Rio Grande do Sul avançavam para o Norte, e pelo Paraná, avançando para o Sul. O índio passou a se refugiar em terras de difícil acesso, e menos ocupadas, adentrando as serras da Mata Atlântica de Santa Catarina.

Garrote escreveu que houve ações violentas por parte dos nativos e também por parte dos colonos. Os índios partiram na defesa do território, dos espaços de passagem ou de caça, até mesmo de recursos, coleta de vegetais, frutos e sementes, e por muitas vezes terem esses espaços destruídos pelas técnicas de ocupação, pelo uso do solo e caça dos europeus.

Na visão do colono, o índio estaria em sua propriedade, espaço que precisava ocupar, cultivar, ou buscar recursos da floresta, como madeira, e assim o índio foi entendido como um empecilho ao processo de colonização. Eles eram vistos como uma constante ameaça às tentativas que faziam os colonos para se apossarem e cultivarem as terras antes ocupadas pelos nativos.

Já os contatos impostos pelos caçadores de bugres, chamavam a atenção dos próprios sujeitos da história pela violência contra índios. Isso demonstra falta de respeito com a história e a cultura dos povos indígenas pelo processo civilizador, uma vez que eram os governos e as agências de colonização que contratavam piquetes volantes de batedores, de “bugreiros”, como eram conhecidos aqueles que eram contratados para exterminar os índios, conclui Garrote.

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